sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Louvado seja o Mamolengo Celeste da Revoada do Oriente.

Louvado seja o Mamolengo Celeste da revoada do oriente
Que veio escapulido de um imaginário,
Com riso fácil, com olhos dóceis
Conduzido caprichosamente pelos dedos de Deus ou do Diabo.

Cada fio era feito de um sorriso,
Cada retalho de uma alegria,
Cada prega ou costura de suspiros
E cada pintura feita de uma marca carnal.

Acompanhado de quatro cavaleiros,
Cavalgando o galope da beira-mar
Sem destino de partida ou de chegada,
Sem vontade de vir ou de ir.

E, com o movimento de sua majestade, o Mamolengo,
A moscaria da mesa posta vai se afastando,
Os bascuios do desmantelo se desmantelando
E uma luz prateada entrando pelo combogo do pó que vira água, que vira pó.

Louvado seja o Mamolengo Celeste da Revoada do Oriente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O encontro com Albo Servonegro de Taperoá, vivido e criado nos apipucos de um arabesco.

Eu vinha montado em meu castanho,
Filho legítimo da sétima geração
Do lendário Pedra Lispe do sertão,
Caçando aves na ilusão da catingueira.

Já se fechava sete tempos da caçada,
Com meu carcará Pirauá no ombro, pronto pra dar o bote,
O bacamarte nas costas preparado pra alumiar minhas rimas e vontades
E a velha Buzaicam numa corrente riscando as unhas no chão destampando trovoadas.

Foi quando, durante minha missão rubra,
Debaixo do Monstro Solar Implacável,
Uma assombração, vinda das Casas Forte, se mostrou.
Montado na onça Caetana e de espada na mão.

Eu que não sou homem de frouxura nem covardia
Perguntei se era caso de maldição. Que ele fosse breve!
Ou algo melhor e dadivoso de grande valia.
Se fosse botija que as coordenadas me desse.

Nem perversidade, nem benfeitoria.
Falou o mal-assombro com voz rouca e profunda.
Sou Albo Servonegro de Taperoá, criado e vivido nos apipucos de um arabesco,
Contador de estórias por oficio e onde me falta memória, sobra imaginação para as mentiras preencher.

E destampou o verbo
Falando do que é certo e reto, errado e torto.
De coisas dos mundos dos morrentes
E das amarelisses e safadezas do viventes.

Me contou que viu um Rei destronado,
Filho de uma sucessão de Reis desmiolados,
Que era ruim de tapa e de pontaria e não valia um quilo na montaria.
Mas era conversadorzinho que era medonho.

Me contou que viu dois sujeitos de patifaria,
Um mentiroso que dava dó e o outro enrolão que doía.
Enterraram cachorra em Latim e venderam gato que dinheiro descomia.
Não escapou ninguém, nem do volante, nem do cangaço. Eram até capaz de fazer o tinhoso se confessar na sacristia.

Depois me falou de casório mal-acabado,
De fornicação de mulher casada com valentão e com homem frouxo também,
De caçadas no meio do mato com estratégias mirabolantes
E até de uma porca de herança com pouca validade.

Quando me dei conta já se voava o tempo.
Os relógios do céu já caiam no sereno
E os santos se ajoelhavam em glória e adoração
Para fazer a prece mais valiosa do Sertão.

Foi assim que larguei minha espingarda e meu gibão
Para empunhar uma espada enferrujada e armadura de segunda mão.
Preparo minhas mentiras com carinho e apreço.
Reconheço que me apodero do direito que o contador de estórias tem de mentir.

Pelos séculos e séculos.
Amém!

Era uma vez uma menina

Era uma vez uma menina
Que, onde ia, levava sua gaiola
Desenhada por um escriba natural de terra pecadora
E que profetizava os aboios dos vaqueiros errantes.

Era uma vez uma menina
Que na sua gaiola tinha um papa-capim,
Cantador, desses que estala e faz viração
E trazia nas mãos as estórias dessa moça com valor de confissão.

Era uma vez uma menina
Que levava uma gaiola desenhada por um escriba medonho,
Onde tinha um papa-capim amigo que guardava segredos
E que acreditava que tudo além das taliscas poderia ser verdade.