quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Travessia celeste de quatro dias e quatro noties

Vinha eu e meu castanho fiel
Cavalgando sob o sol de fevereiro.
No matulão levava um pão que nem o diabo quis amassar
E na jarra uma água guardada, amarga feito fel.

Já fazia bem uns três dias de jornada.
Já fazia bem uns trezentos sonhos sonhados.
Na cabeça a saudade de um amor telúrico
Que martelava o juízo que nem o grito do cancão

Já ia perto de Simbres, nas primeiras léguas de Capibaribe
Quando senti o chão se tremer inteirinho.
Me avoei no chão como quem escapa de bala
E procurei meu punhal mouro para defender o que era meu.

Lá no firmamento vinha uma nuvem de poeira.
Tinha bem uns trinta metros pro céu,
Tinha bem ns trinta metros pros lados.
E era acompanhada de uma zoada de levantar até jumento morto.

Quando aquilo chegou mais perto
O mistério se dismisteriou.
Minha vista se desanuviou
E minha espinhela, na velocidade de um corisco, petrificou.

Era uma revoada de cobras celestes
Que tinham asas nas costas e esmeraldas nos olhos.
Cada escama tinha a marca dos Reinados Agrestinos,
Cada dente tinha marcas dos Reinados Sertanejos.

Tinha pra mais de sete mil serpentes.
Era tanta cobra que minha vista nem alcançava o fim.
E pelo visto ia tudo atravessar o pobre do Capibaribe
Naquele galope desenfreado.

Quando as cobras entraram na água
O rio se dividiu na metade.
Era as cobras passando desavisadas do Capibaribe
E o Capibaribe dividido no meio da quantidade de serpente.

Forma quatro dias e quatro noites de travessia.
Eu e o castanho já estávamos perdendo a paciência
Quando notamos que a revoada já estava acabando.
Perto de umas duas léguas vinha quem aquilo estava pastorando.

Era uma aparição de causar estranheza.
Que não se pode ver no mundo dos viventes,
Que não se pode ver n mundo dos morrentes.
Uma santa profana vinha montada no galope num galho de cajarana.

A comitiva passou sem me notar.
Não levei nem uma mordida, picada ou susto
Graças a Santa do galho de Cajarana
Eu hoje posso esse causo contar.

Pelos séculos e séculos,
Amém!