sexta-feira, 3 de julho de 2009

A noiva que tinha mais prestígio que o santo

Essa história se deu lá para as bandas do sul.
Depois um tanto da famosa Palmares
Mais de trezentas léguas.
De carreiro fica mais perto que indo a pé,
Mas nem tanto.

Tinha uma menina muito bonita.
Mais,
Mais ainda,
Calma, sem exageros.

Era uma figura agalegada,
Que os cabelos se enroscavam em cachos celestes
E os olhos cor de mel de abelha.
Tinha ombros fortes, seios fartos, cintura afilada
E se eu descer mais me lasco de animação.

Ela era de lá da casa dos Tarso.
Se chamava Ana.
E resolveu que queria casar
Com rapaz bonito de montaria elegante.
Ele era vendedor de sonhos e coletor de suspiros
E morava lá depois da ponte.

Mas tinha um santo novo no Céu
Que ainda não sabia de seu papel de santo.
E derrubado de encanto pela beleza da moça
Resolveu usar de seu prestígio
Para acabar com a festa e da noiva tirar o véu.

Correu para se queixar com São Pedro
Reclamando que naquela semana ainda não tinha chovido,
Que isso era um castigo amargo para o povo daquela região,
Que ele na categoria de Santo novo deveria suplicar
Pela angustura da que povo cristão.

Pedro que já estava meio atabalhoado
Mandando chuva para as bandas do cerrado,
Colocou tudo no mesmo pacote
E resolveu mandar chuva sem esperar segunda ordem.

Pobre de Ana.
Olhava pro céu com cara de choro e rezava.
As nuvens pretas cobriram o horizonte.
Se desprendiam delas coriscos galopantes.
A chuva ia atrapalhar o casamento. Não tinha mais consolo.

Então um Santo mais velho que a idéia de ser Santo
Escutou a homilia da inconsolável noivinha.
Resolveu com Pedro interceder
Para não interromper a união do casal.
Chagando no gabinete de Pedro
Percebeu o plano ocorrido.
Falou logo para o santo acabar com o toró.
Que mocinha tinha que casar
Nem que fosse debaixo de cacete.

O santo novo que de besta não tinha nada
Foi se escapando pela beirada da porta.
Foi então que o Velho sabido pegou ele pela gola e soltou o dito:
“Cabra sem vergonha. Teu prestígio não é tão grande, disso tudo nem metade.
“Se retire e vá pensar no que você fez antes que te parta em duas partes.”

O santo escafedeu como quem rouba,
A chuva parou como quem consola,
A luz amarela brilhou como quem sorri
E então o casamento se deu.

Ninguém sabe até hoje é o que tinha na homilia,
Se era promessa, santo padrinho, reclamação ou zombaria.
O que se sabe é que prestígio com o santo a noiva tinha.
Isso ela tinha!