segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ajuda a um irmão de armas

Era uma noite de pano escarlate estrelado
Com mais de mil anjos no céu
E quinhentos diabos na terra,
Tudo como o Monarca tinha arquitetado.

Eu dormia meu sono cavalariço,
Cansado de batalhas e galopes,
Perto da boca das águas que vêm,
Em baixo de um secular pé de coração-de-negro.

Foi quando fui acordado por um grito de pavor.
Me levantei num pulo pronto para sangrar,
Sangue meu ou de quem quer que fosse.
De punhal nos dentes procurei quem deveria lutar em seu favor.

Fiquei horas a procurar,
Em qualquer lugar que fosse,
Ajudar um desesperado desenfeliz
De um descontento do destino se libertar.

Foi quando resolvi olhar para a lua cheia.
E no meio do pretume da noite pintada de vaga-lumes,
Vi na bola prateada uma situação assombrada.
O danado do dragão atacava São Jorge que quase morria.

Arretado com o atrevimento do bicho medonho
Montei no castanho e pedi bença a minha Santa Conceição.
Que ela não sentisse ciúme e me desse proteção
Pois, partia em socorro de um irmão de armas e de sonho.

Dei um cheiro na minha estrela e roubei do poeta a trova:
Não choram conforta mulher
Eu volto se assim Deus quiser.
E galopei em disparada rumo à batalha anunciada.

Era mordida e queimadura – noite que virava dia.
Ferroada e rachadura – dia que virava noite.
Nessa brincadeira forma trezentas luas de peleja e sofrimento
Até o dragão se entregar a nosso contento.

Hoje olho para lua e vejo os desenhos da batalha nela marcados.
Lembro com detalhes cada golpe e queda,
Cada queda e golpe.
E com detalhes trago as marcas da batalha nas costas desenhado.

Inté hoje, muitos sois depois,
Venho andando por essas campinas
Afim de espalhar essa estória
Na qual ajudei São Jorge a derrotar o dragão.