segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Encarrascado

Nas reentranças encarrascadas de um cabelo
Existe um sonho bem sonhado.
Bem querido e guardado,
Com cheiro de chuva de janeiro.

Nas reentranças encarrascadas de um cabelo
Existe um sentimento bem sentido.
Bem gostado e gozado,
Com gosto do canto de um papa-capim.

Nas reentranças encarrascadas de um cabelo
Existe uma saudade bem dolorida.
Bem forte e viva,
Com gosto de beijo antigo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O homem que levou chifre de Deus

Ele já chegou pra Deus se reclamando.
Abanando os braços feito uma capota,
As ventas bufando que nem bode brabo,
Tudo isso por conta de um par de chifres que tinha levado.

Deus sem muita rudia lançou a pergunta pra corno:
- Fala meu filho qual o motivo de tua agonia?
O desenfeliz respondeu de pronto:
- Mas Deus rapaz, que danado eu fiz pra aquela ingrata me colocar essas pontas?

Deus olhou bem no miolo dos olhos do gaiudo e respondeu:
Não coloque a culpa em sua bela mulher seu cabra,
Ela de tudo fez pra ver você feliz e corado.
Na verdade você se desgraçou por um chifre que quem colocou fui eu!

Na mesma ora o danado caiu de anel no chão sem entender a traição:
Mas Deus, que danado foi isso do senhor furnicar com minha mulher?
Não foi nada disso seu sem-vergonha, eu lá sou homem dessas safadezas.
O chifre que você carrega não é de engembração e sim um castigo pelo cabra ruim que você era.

Você lembra do dia que deu uma pisa na sua esposa?
A bichinha ficou quatro dias com o miolo mole e sem sentir gosto.
Inté hoje não escuta direito do ouvido esquerdo de tanta pancada no rosto,
Tudo isso devido a um pifão que o senhor tomou no bar do velho Raposa.

Você se lembra do dia que mandou prender o pobre do Miguelon?
O bichinho ficou trancado no xadrez, mofando feito queijo .
Inté hoje tem um cacoete que é uma piscadeira sem fim por conta das pisas dos Volantes.
Tudo isso por conta de um par de galinha que tinha pego no terreiro de seu Ideon.

Você se recorde do dia que colocou de castigo seu filho Damião.
O coitado ficou amarrado no pé da mesa do almoço por uma linha de costura e não poderia torar.
Inté hoje sofre de cãibras e esta coxo de uma perna.
Tudo isso modos que ele teria ido pescar no açude com sua vara sem permissão.

Essas que me lembro e tomei nota, sem contar outras tantas que ficou pra História.
O senhor foi ruim e amargo feito fel, tratava todo mundo na ponta de sua faca,
Sem pena nem dó. Era tinhoso feito cascavel.
Gente como você pra mim é escória.

Fiz você na minha imagem e perfeição,
E tudo que você fez foi anarquizar com o meu feito.
Pois uso dos poderes que tenho e mudo sua afeição.
Em vez de parecer comigo vais ficar igual com o cão.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sem alumiar mares

Era uma vez um vaga-lume
Que com sua dança alumiava a lua.
Corria por espaços nunca antes corridos
E que com movimentos exatos derrubou um cavaleiro.

Era uma vez um vaga-lume
Que com sua graça sorria o sol.
Nadava em rio de contos
E que carinhava a chuva chovendo no chão.

Era uma vez um vaga-lume
Que dava presentes para Cosme e Damião.
Cobria o céu de celofane e das estrelas fazia confeito
Tudo isso para ver santos irmãos sorrirem risos santos.

Era uma ver um vaga-lume
Que não sabia que era isso tudo.
Não sabia que era o riso solto de um sol
Nem o alumiar aluminozo de um luar.

Era uma vez um vaga-lume que era minha outra asa.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ajuda a um irmão de armas

Era uma noite de pano escarlate estrelado
Com mais de mil anjos no céu
E quinhentos diabos na terra,
Tudo como o Monarca tinha arquitetado.

Eu dormia meu sono cavalariço,
Cansado de batalhas e galopes,
Perto da boca das águas que vêm,
Em baixo de um secular pé de coração-de-negro.

Foi quando fui acordado por um grito de pavor.
Me levantei num pulo pronto para sangrar,
Sangue meu ou de quem quer que fosse.
De punhal nos dentes procurei quem deveria lutar em seu favor.

Fiquei horas a procurar,
Em qualquer lugar que fosse,
Ajudar um desesperado desenfeliz
De um descontento do destino se libertar.

Foi quando resolvi olhar para a lua cheia.
E no meio do pretume da noite pintada de vaga-lumes,
Vi na bola prateada uma situação assombrada.
O danado do dragão atacava São Jorge que quase morria.

Arretado com o atrevimento do bicho medonho
Montei no castanho e pedi bença a minha Santa Conceição.
Que ela não sentisse ciúme e me desse proteção
Pois, partia em socorro de um irmão de armas e de sonho.

Dei um cheiro na minha estrela e roubei do poeta a trova:
Não choram conforta mulher
Eu volto se assim Deus quiser.
E galopei em disparada rumo à batalha anunciada.

Era mordida e queimadura – noite que virava dia.
Ferroada e rachadura – dia que virava noite.
Nessa brincadeira forma trezentas luas de peleja e sofrimento
Até o dragão se entregar a nosso contento.

Hoje olho para lua e vejo os desenhos da batalha nela marcados.
Lembro com detalhes cada golpe e queda,
Cada queda e golpe.
E com detalhes trago as marcas da batalha nas costas desenhado.

Inté hoje, muitos sois depois,
Venho andando por essas campinas
Afim de espalhar essa estória
Na qual ajudei São Jorge a derrotar o dragão.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Louvado seja o Mamolengo Celeste da Revoada do Oriente.

Louvado seja o Mamolengo Celeste da revoada do oriente
Que veio escapulido de um imaginário,
Com riso fácil, com olhos dóceis
Conduzido caprichosamente pelos dedos de Deus ou do Diabo.

Cada fio era feito de um sorriso,
Cada retalho de uma alegria,
Cada prega ou costura de suspiros
E cada pintura feita de uma marca carnal.

Acompanhado de quatro cavaleiros,
Cavalgando o galope da beira-mar
Sem destino de partida ou de chegada,
Sem vontade de vir ou de ir.

E, com o movimento de sua majestade, o Mamolengo,
A moscaria da mesa posta vai se afastando,
Os bascuios do desmantelo se desmantelando
E uma luz prateada entrando pelo combogo do pó que vira água, que vira pó.

Louvado seja o Mamolengo Celeste da Revoada do Oriente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O encontro com Albo Servonegro de Taperoá, vivido e criado nos apipucos de um arabesco.

Eu vinha montado em meu castanho,
Filho legítimo da sétima geração
Do lendário Pedra Lispe do sertão,
Caçando aves na ilusão da catingueira.

Já se fechava sete tempos da caçada,
Com meu carcará Pirauá no ombro, pronto pra dar o bote,
O bacamarte nas costas preparado pra alumiar minhas rimas e vontades
E a velha Buzaicam numa corrente riscando as unhas no chão destampando trovoadas.

Foi quando, durante minha missão rubra,
Debaixo do Monstro Solar Implacável,
Uma assombração, vinda das Casas Forte, se mostrou.
Montado na onça Caetana e de espada na mão.

Eu que não sou homem de frouxura nem covardia
Perguntei se era caso de maldição. Que ele fosse breve!
Ou algo melhor e dadivoso de grande valia.
Se fosse botija que as coordenadas me desse.

Nem perversidade, nem benfeitoria.
Falou o mal-assombro com voz rouca e profunda.
Sou Albo Servonegro de Taperoá, criado e vivido nos apipucos de um arabesco,
Contador de estórias por oficio e onde me falta memória, sobra imaginação para as mentiras preencher.

E destampou o verbo
Falando do que é certo e reto, errado e torto.
De coisas dos mundos dos morrentes
E das amarelisses e safadezas do viventes.

Me contou que viu um Rei destronado,
Filho de uma sucessão de Reis desmiolados,
Que era ruim de tapa e de pontaria e não valia um quilo na montaria.
Mas era conversadorzinho que era medonho.

Me contou que viu dois sujeitos de patifaria,
Um mentiroso que dava dó e o outro enrolão que doía.
Enterraram cachorra em Latim e venderam gato que dinheiro descomia.
Não escapou ninguém, nem do volante, nem do cangaço. Eram até capaz de fazer o tinhoso se confessar na sacristia.

Depois me falou de casório mal-acabado,
De fornicação de mulher casada com valentão e com homem frouxo também,
De caçadas no meio do mato com estratégias mirabolantes
E até de uma porca de herança com pouca validade.

Quando me dei conta já se voava o tempo.
Os relógios do céu já caiam no sereno
E os santos se ajoelhavam em glória e adoração
Para fazer a prece mais valiosa do Sertão.

Foi assim que larguei minha espingarda e meu gibão
Para empunhar uma espada enferrujada e armadura de segunda mão.
Preparo minhas mentiras com carinho e apreço.
Reconheço que me apodero do direito que o contador de estórias tem de mentir.

Pelos séculos e séculos.
Amém!

Era uma vez uma menina

Era uma vez uma menina
Que, onde ia, levava sua gaiola
Desenhada por um escriba natural de terra pecadora
E que profetizava os aboios dos vaqueiros errantes.

Era uma vez uma menina
Que na sua gaiola tinha um papa-capim,
Cantador, desses que estala e faz viração
E trazia nas mãos as estórias dessa moça com valor de confissão.

Era uma vez uma menina
Que levava uma gaiola desenhada por um escriba medonho,
Onde tinha um papa-capim amigo que guardava segredos
E que acreditava que tudo além das taliscas poderia ser verdade.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O galope desenfreiado de que lhe faltava juizo ou sobra criatividade

Lá vem Josefina Rameira desembestada na carreira.
Na cabeça tem uma tiara feita de jurema,
No peito tem leite fresco de aveloz
E entre as pernas tem o passado de mais de mil homens.

Lá vem Josefina Rameira desembestada na carreira.
Na mão um xique-xique pra fazer de açoite,
Na boca uma rapadura pra fazer doce
E nos pés o cordão das alegrias fazer a gente rir.

Lá vem Josefina Rameira desembestada na carreira.
Já plantou um pé de catingueira no meio de uma nuvem,
Já criou a onça Buzaican numa coleira curta
E já falou línguas que faz tempo que não se fala mais.

Lá vem Josefina Rameira desembestada na carreira.
Vem montada na burrinha Calú com quem já viu meio mundo,
Vem mastigando pensamentos pra lembrar de onde vem
E vem suspirando amores colossais largados além mar.

Lá se vai Josefina Rameira desembestada na carreira.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Amarela Rainha

Lá vinha ela pisando o firmamento.
Montada numa jandaia verdinha,
Mas parecia um malasombro dos casarões dos engenhos de Palmares.
Vestida com três fitas trançadas.

Era minha rainha amarela pra meu contentamento e graça
Que vinha lá de onde se vinha.
Uma mulher com cara de menina e com gosto de festa de Santo
Onde eu brincava minhas brincadeiras de menino.

Minha amarela Rainha de coroa magistral que fez do menino um homem,
Me faz sentir saudade do tempo que já não foi,
Mas vem com a força de tua essência
E assume teu reinado de direito e de carne.

Pelos séculos e séculos.
Amém!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

69 da Catarinata

Era uma cruzada secular,
Embarcado numa nau imponente
Com velas brancas de reino decente,
Um Capitão velho resolveu os quatro céus navegar.

Setenta homens embarcados.
Setenta guerreiros sangrentos.
Setenta famílias lascadas.
Setenta desejos crescendo.

Entre os velhacos marinheiros
Estava uma bela dama.
Filha querida e prendada do capitão
Que atendia pela graça de Donana.

Ela era linda como poucas estrelas,
Cheirava ao perfume dos jasmins dos Mouros.
Era tão formosa e graúda
Que já teve homem querendo a ela dar tesouros.

Em noite pouco iluminada
Bateu no camarim do Capitão
Um amarelo Bartô da Encruzilhada
Para a ele caguetar uma situação.

Meu Capitão eu vim aqui te contar
Cosia que vi e não posso esconder.
Vi Donana lá fora a fazer
Coisas que ao senhor possa envergonhar.

Me conte bom fofoqueiro
O que tens pra me dizer,
Pois problemas de minha filha para resolver
É o que mais tenho o tempo inteiro.

Meu capitão, não sei por onde começar,
Mas vou pelo primeiro instante
Em que vi a Donana, Debutante,
Com o safado do timoneiro, Cabaxum de Damião, a namorar.

Valeime minha Santa da Conceição!
Me diga seu amarelo desenfeliz
O que tem pra me falar, seu aborto de concriz.
Se não me contar, arranco seus bigodes e outras partes mais queridas que falta vão fazer para proliferação.


Não se afobe descuidado Capitão
Vi Donana pelada dos peitos,
Vi donana pelada dos quartos,
Engembrada no Cabaxum e manejando dele o timão.

Eu não queria, mas opção o senhor não me deu.
Safadeza desse porte
Nem no namoro do Diabo com a Diaba.
Vi Donana fazendo pose igual a do cavalo do velho fariseu.

Menina desajuizada.
Com quem foi que isso ela aprendeu?
Tanto que cuidei de sua virtude
Pra dessa forma ter a honra manchada.

Calma Capitão que isso não é tudo.
Donana é danada
E desse assunto sabe muito.
Teve uma hora que deu uma bocada no rapaz que quase faz Del um eunuco.

Me traga esse sem-vergonha do mangue.
O nome da minha filha não vai ficar manchado.
Ou ele casa com Donana e salva seu pescoço,
Ou vou esse barco lavar com muito sangue.

E meio abilolado pelos pifões que levou
Chegou Cabaxum de Damião
No camarote do enraivado Capitão,
Pai da menina que desonrou.

Você agora vai casar seu filho de chocadeira.
Buliu na minha pobre Donana,
Se lambusou onde não devia.
Agora você casa. Queira ou não queira!

Mas capitão, espero que o senhor me entenda.
Donana não é santa e não fui eu o primeiro,
Pois de seus subordinados, que são 69 marinheiros,
Não tem sequer um que não tenha passeado na sua herdeira.

Até mesmo esse amarelo falador.
Em dia de lua cheia e céu estrelado
Se atracou com Donana bem ai no camarote do lado
E só saiu quando já sentia ardor.



Menina desavergonhada. Agora nem sei o que fazer.
Dela só estragaram o corpo.
Já acabaram com minha moral.
O que me resta e nessa embarcação uma lei estabelecer.

A partir de hoje decreto oficialmente
Que minha filha tem um harém e 69 marinheiros.
Satisfaçam ela todos os dias, seus gostos e regalias.
Sendo assim, dessas linhas mal traçadas, assino rente.

domingo, 8 de julho de 2007

O revez da mariposa contra o velho galego

Uma mariposa me arrudiava incansavelmente,
Com movimentos leves e embriagados, como quem pede colo.
Coberta de risos, bordado de sonhos, todo isso combinado num tom de terra quente
E tinha uma tiara, caprichosamente enfeitada com estrela cadente caída dos céus de Maraial.

Me desenvergonhei e resolvi falar meu desejo.
Perguntei pela sua graça, de onde vinha, se comigo dançaria?
E na debilidade mental de minha paixão,
Movido pelo azougue daquela situação,
Perguntei se comigo ela queria namorar? Namoro pra casar!

Ela parou sua dança e sem milongas nem costuras
A pequena voadeira se enfezou e me disparou um catolé no miolo do pé-do-ouvido.
Me tirou a pose de cavaleiro e de galanteador
E agora com dor na orelha e completamente descangotado.

Nem que eu tivesse pedindo pra furnicar com o Diabo.
A mariposa se virou numa cachorra febrenta
Que da boca saia língua bifurcada, dentes de serpente e tinha chama nos olhos.
Nunca pensei que de um bicho vivente tão pequeno pudesse sair tanta obscenidade.

A furnicação do velho com a Gira num terreiro de festejos de Santo

No quintal a festa tava com a gota,
Rabeca roncando o ronco no cangote de um jumento de cangalha,
Zabumba bumbando o bumbo no colo de um velho ceguinho prezepeiro de canavial
E pífano piava o pio no bico de uma lavadeira assanhada e ligeira.

Era festa de Santo, desses que tem barba longa e careca lustrosa.
As estrelas do céu vieram fazer suas safadezas,
As borboletas rodavam suas saias para concorrer com as mariposas voadeiras
E o petiguari cantava na vontade de matar a vontade.

No meio dessa briga de foice uma Rainha cantava mais.
Era uma gira medonho, vestida de saias vermelhas, nua da cintura pra cima e calçando chinelos de couro de bode.
Na mão uma faca, arrancada de uma bananeira, com um nome gravado.
Qualquer vivente naquela noite queria estar na ponta daquela lâmina.

Ela corria e gritava, girava e bebia,
O suor escorria e fazia seus peitos brilhar e arrepiar.
A gira, sem-vergonha, se amostrava no meio do terreiro
E os brincantes se perdiam naquela dança invocada e se entregavam.

Fui chegado devagarinho com cara mansa,
Dançando acanhado, de perna puxada e ombro arriado.
Fiz rudia, fiz meu gingado, feito menino pequeno em volta de panela de doce
E como quem não quer nada soltei a língua.

Olhei ela dentro dos olhos e falei algum galanteio que um mouro velho ensinou.
“Niña, yo estoi a cá!”
Ela se ria e girava, baqueava e levantava, fazia que caia e vinha
E naquela dança nefasta fui escrevendo um nome naquela faca.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O dia em que o velho galego deu um nó nos planos celestes da onça

Um dia me acordei num lugar que me causou estranheza,
O céu era mais céu, a terra mais terra, a água mais água,
Os sabiás cantavam num tom de laranja muito mais forte
E uma onça velha me olhava colorir.

Diante do malassombro dei um pinote feito um grilo e fiquei de pé,
Peguei meu bacamarte e fiz mira bem no meio dos olhos pra não etragar o couro.
Eu, caçadorzinho velho que sou, não tremia nem piscava.
Ela, onçazinha velha que era, da minha agonia mangava e sorria.

Me arretei com a risadagem, recolhi minha arma, perguntei pela graça?
Com os córneos quente falei que não ia ter tiro nem pipoco,
Que a ria que eu tava sentindo a pólvora não esfriaria,
Só no tabefe minha ira pararia.

A velha felina se ria mais forte e se levantou.
Então fiz gingado de briga e me preparei pra dar dentada e cabeçada.
Foi tarde quando notei minha desvantagem diante do malassombro,´
Até asa encarnada tinha a amaldiçoada.

Foi um abano só de asa e o céu respondeu.
Uma tuia de trovão do firmamento se derramou.
Eu não sou homem de frouxura nem de covardia,
Mas do susto que levei cai descangotado de bunda no chão.

Então, mostrando os dentes que não era pra morder,
Ela resolveu minhas cores esclarecer.
Como eu tinha chegado naquele lugar
E tudo que eu tinha acabado de perder ou ganhar.

Lá na frente vinha um batalhão de jumentos tocando rabeca, começou a onça,
seguidos de perto por velhas Rainhas Lavadeiras com coroas de pano na cabeça e tocando gaitas
E mais um bando de macacos celestes fazendo brinquedos e tocando realejo.
Logo depois vinha um anjo catimbozeiro, mal desenhado e sorridente com seus dentes de prata, tocando pífano.

Trezentas viúvas choravam pelo seu defunto,
Trezentas amantes choravam pela falta de amores,
Trezentas crianças choravam pela falta do brincante
E trezentas mulheres choravam pela falta da oportunidade.

Os papagaios mais coloridos vieram contando seus contos,
Os canários cantando seus cantos,
Ferreiro gritando desde o primeiro momento
E as abelhas vieram do céu com seus potinhos de mel.

Tinha cavaleiro montado em cavalo elegante e vestindo bela armadura,
Tinha mentiroso montado no cabo da vassoura contando vantagem,
Tinha poeta montado em donzelas enganando a amargura
E tinha louco montado no vento com uma cuia pedindo um sonho.

Vinha uma ala só de mouros com sua pele escura,
moedas no bolso e espada na cintura.
Vinha dançarina coroada pelos desejos do mar,
Sonhos dos marinheiros famintos de gozo.

E no final de tudo isso, lá na rabeira da fila
Vinha o motivo da reunião.
Uma caixa miraculosa feita de angusturas
Que refaz a vida dos viventes.

Dentro dela um velho galego de barba longa
Vestido de sonhos e coroado de saudade.
No peito duas moedas de ouro com cara de criança,
Na mão o direito de mentir e de bulir na vaidade.

Pra esse velho o dragão noturno já soprou
O fogo negro das coisas que não voltam.
A areia do norte já caiu no fundo da botija
E o mal irremediável que aflige todos os homens chegou.

Mas a onça Buzaican não contava com minha amarelisse e sabedoria
E num lampejo pensei num desafio que a onça encurralaria.
Pedi a ela um desafio que na falta de resolução
As garras dela me estragariam sem protesto ou homilia.

De pronto ela aceitou e sorridente as garras afiou.
Então o verbo soltei sem medo nem gaguejar.
A confiança tomando o peito da Buzaican
E a esperança me corroendo o buxo.

E na hora exata fiz o duelo.
Primeiro perguntei qual dos viventes e morrentes tinha maior pontualidade?
E com sorriso ela disse sem nem pisca:
"A onça Buzaican onipotente a caçar".

Então fiz outra pergunta para minha alma salvar.
"Quem mais tem esperança entre os viventes e os morrentes?"
E com as unhas de fora respondeu a pontual:
"O amarelo velho na hora de sua dívida carnal pagar."

Na hora preparei o desafio e lancei:
"Pois se a senhora é poderosa mesmo e tem respaldo com o divino,
A senhora poderia me dar um tapete da pele do bicho mais poderoso e arrogante
Para poder esquentar meu vil corpo carnal depois da morte? "

A Buzaican deu a bilora, bateu asa, rosnou e pulou,
O pelo das costas arrepiou e olhou no fundo do meu olho e disse:
Amarelo sem-vergonha, velho sebento. Te amaldiçôo por todas as gerações,
Mas meu couro não vai pra tua parede de troféu.

Foi assim que o velho galego enganou a morte
Ficou entre os viventes,
Largou o mundo dos morrentes
E conta suas mentiras pra todo o sempre.

Pelos séculos e séculos...

Amém!

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O dia em que o velho galego se embolou com a pára-quedista que contava estórias

Estava deitado em minha rede espreguiçadeira
Quando me veio lá da feira uma moça me falar.
Ela era loura, era alta , era magra, os olhos um copo de água onde queria me afogar.
O nome dela era Serafina Presepeira do Pouco Juízo e de muita estória pra contar.

Me falou de uma ida lá pro céu no lombo de seu jumento estelar,
Que tinha colhido umas estrelas e que jogo de criança ia brincar.
No seu regresso esbarrou em uma estrela desatenta e num estouro começou a desabar.
Caia céu, caia moça, caia estrela, caia todo mundo numa noite de luar.

Mas Serafina Presepeira, desajuizada que era, no meio de sua queda resolveu inventar.
Tirou a blusa de chita amarela, fez um nó-cego, dobrou um pára-quedas para parar no ar.
Nua da cintura pra cima, com o vento lambendo seus peitos e fazendo arrepiar,
E lá em baixo todo mundo esperando a pára-quedista nua no chão parar.

Eu já estava mastigando minha imaginação com aquela estória quando percebi que não ia me agüentar.
Pulei da rede, peguei Serafina pela mão, desatei no carreirão para no meu cavalo montar.
No galope robei ela para um por do sol, preparei meu anzol para seu coração ferrar.
Foi cheiro, arranhão, mordida e puxavante. Logo deposi de nove meses tivemos que casar.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Carta para minha Santa Mãezinha

Tenho filosofado sobre minha existência.
Sábios, Reis, eruditos e velhos já tentaram me desanuviar os olhos,
Mas, os únicos que me mostraram uma teoria decente para os assoites Divinos,
Seja por ferro, fogo, terra, água ou couro, foram os Brincantes.

Me falaram que era uma traquinagem do Divino,
Poia, tenho nome dos mais famigerados bandidos infames de todos os tempos.
Sou filho de sangue Mouro, que herdou dos velhos judeus
O rancor eterno e carnal de ter cucificado o menino Nazareno.

Valeime minha Nossa Senhora dos Nomes Mal Escolhidos.
Já sinto até o remorso por feitos antigos.
Não sou culpado pelas, destemperanças, arriações, amarguras e angusturas desses meus enerentes.
Seja de mim advogada, já não tenho muita providência para um e pedir ao Diabo não me agrada.

Prometo trocar de nome para algo mais romântico ou cavalariço,
Um nome de Rei, de escritor ou de poeta.
Assim, vou poder mentir, enganar, ludibriar, escamotear sem ser punido
E minha herança genética não terá problema com as dívidas carnáis com o Divino.

Espero que meu cancão não se perca e que esse bilhete não caia no caminho.
Que a senhora entenda minah angustura.
Aguardo sua defesa celeste
E sua atenção Materna.

Pelos séculos e séculos.
Amém.

O dia em que a onça mostrou como se deve duelar com o tempo

Um dia profano qualquer,
Desses que se acende velas coloridas e coloca pipoca numa cuia em oferenda,
Uma onça pintada, com seis patas, três cabeças, cada uma com uma coroa de refinado metal, entrou pela soleira de minha sala
E me caguetou coisas do mundo dos viventes e dos morrentes.

Falou aqui no meu pé do ouvido
Que lá no quintal, perto de onde se bebe leite de aveloz, estava sentado de cócoras
O velho Santo Simão Julião dos chinelos de couro
Que jogava bolinha de gude com o tinhoso do tempo.

O chinelo do velho Santo Simão Julião chiava e riscava o chão,
O velho Santo Sima Julião, dobrado na gaitada, mangava do tempo,
O tinhoso do tempo se danava com a risadagem e corria virado numa gota
E o pobre do dia, que não tinha anda com isso, era o maior prejudicado e morria na ligeireza.

No final da peleja, em que bicho frouxo corria e cabra valente se mijava,
O tinhoso do tempo, vencido, pegou seus farrapos e desfiados e se retirou,
O velho Santo Simão Julião dos chinelos de couro que risca o chão recolhia suas bolinhas
E Nossa Senhora Mão do Nazareno assistia a tudo de camarote no miolo de um gravatá.

A onça se virou e me falou como quem canta uma Loa:
O tempo corre, se emenda, se arreta, desembesta e se esvai.
Só vai depender do desafiante saber duelar,
Pegar o apressado e arisco pelo rabo e fazer dele um brincante passageiro.

sábado, 2 de junho de 2007

O dia em que uma menininha com cara de menininha se mostrou para uma velha alma com cara de velha alma

Vestida com uma nuvem amiga, dessas meio cinzentas,
As mãos enfiadas no bolso,
Os pés virados pra dentro com quem encabula
E o sorriso aberto desenhando o rosto.
Vinha ela fazendo inveja á todo o batalhão de anjos
Que do céu veio ver ela passar.

Os pintassilgos iam bem na frente mandando o povo dar passagem,
Um sabiá enroscava uma minuciosa trança etária em seus cabelos.
Lá vinha ela, sem dó e nem piedade.
O chiado de seu chinelo estalava forte no ouvido feito um malassombro
E seu cheirinho de mar tomava conta dos sonhos que não foram sonhados mas já se sente falta.

Menininha com cara de menininha que se mostrou para uma velha alma com cara de velha alma.
Tendi piedade. A piedade dos amantes sem medo ou dor,
Pois, fui vitimada por um capricho do carrasco implacável, o Tempo.
Não é por gosto nem por vaidade,
É cosia que não se explica nem se mede.
Pelos séculos e séculos.
Amém.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Encomenda

Uma jandaia verdinha vei me caguetar
Que ela disse que vinha
E que chegaria montada num corisco
Perfumado com cheirinho de mar.

Enfeitada com vaga-lumes no cabelo
Ela vem com um presente no colo,
Embrulhado com sorrisos e alegrias
E a amarrado com um prateado luar.

Dentro do celeste pacote,
Preparado com tanto primor e carinho,
Deve ser uma bela surpresa,
Dessas que faz a gente não dormir um dia antes.

Minha amiga jandaia verdinha me caguetou
Que deve ser uma estrela cadente,
Colhida numa intemperância qualquer do tempo
E que tinha meu nome gravado nela.

Ditadozinho sem-vergonha

Queria saber quem foi o maldito,
Que, por falta do que fazer,
Teve a falta de sabedoria de blasfemar
Que quem rir por último rir melhor.

Eu, cabuloso que sou,
Resolvi esperar na rabera da fila só pra ser o melhor.
Mas já to ficando aperriado,
Ainda tem muita gente até chegar minha vez.

Esse infeliz poderia tar dito
Que quem riri mais alto riri melhor,
Ou ainda quem rir sem babar é o campeão.
Por que ele teve que inventar de me mandar pro fim da fila rapaz?

domingo, 27 de maio de 2007

Um dia depois de outro dia que vem antes de qualquer dia.

Já é dia de missa.
Dia de banho perfumado,
Dia de bailinho com as mas belas flores,
Mas um dia de cavaleiro solitário.

Já é dia de missa.
O circo ja desfez sua alegria,
O palhaço tambem desfez sua maquiagem,
Mais um dia de Cavaleiro solitário.

É dia de missa.
As bolhinhas já não fazem mais cosquinha no céu da boca,
As saia do vento acabam de se rasgar
E é mais um dia de cavaleiro solitário.

É dia de missa.
Um saguim desacanhado meu veio no ombro para falar
Que a cigarrinha para o mar já não canta mais.
É, mas, é um dia de cavaleiro solitário.

Já se vai o dia de missa.
A tropa de jumentos já vem pisando o tempo
Sem a piedade que deve te o manso.
Se desmantela mais um dia de cavaleiro solitário.

Já se foi o dia de missa.
Um leviano gosto azul de saudade dança na minha frente,
O balé de dois dançarinos que eu nunca vivi.
E vem mais um dia de cavaleiro solitário.

Agora já não é mais o dia de missa.
Alforjo minhas rugas, minhas dores, meus rancores e amores
Para poder carregar nas mãos calejadas apenas a felicidade de duas moedas de ouro.
Lá se vem mais um dia de cavaleiro solitário.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

La niña

Lá estava ela nas plantações de Dom Seu Pai
Onde os negros açoitados pelo tempo
Colhem as amargas lágrimas
Que, cuidadosamente, enrolam os sonhos alvejados.

Completamente vestida por um panamá,
Vinha com uma cigarra cantando em seus olhos,
Mal podia ver, desatenta morena que se abanava com suspiros roubados,
Que destoava de todo aquele ambiente feroz.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Voadeira

Eita menina voadeira.

Vestida de papel crepom em dias de chuca,
Como se assim não desmantelasse sentimentos,
Cabelo cheirando a jasmin na florada
E a boca coberta de sonhos alheios.

Chuta a espuma do mar como se não fosse amada,
Pisa a reia da praia com os pés do tempo
Que leva a menina a qualquer vil relento
Destruindo os suspiros de amores instantâneos dos marinheiros.

Eita menina voadeira.

Acaba com minha pose de cavaleiro,
Mostrando um lado matreiro de menino já enquecido,
Enche minha brriga de cosquinha,
Como se tivessem mil cavalos do cão em revoada.

Se me caisse uma estrela

Se um dia me caisse uma estrela,
Que fosse bem aqui no miolo de minha mente,
Mas que não me arrombasse os miolos
E nem me tirasse as estórias que conto.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que viesse bem devagarinho,
pendurada numa fieira de jogar peão
E embrulhada em papel crepom azulzinho.

Se um dia me caisse uma estrela
Que caisse com cheirinho de chuva qundo bate na terra,
Dessas que cai sem aviso no meio de dezembro
E deita a gente numa rede pronto pra cochilar.

Se um dia me caisse uma estrela,
que fosse do lombo de um sabiá,
Desses que cantm bem afinadonhos
E faz menina se aquetar na hora do mais colorido crepúsculo.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que viesse mansinha e suave,
Como quem anda nas costas de um jumento
Vindo acompanhado dos tropeiros da Borborema.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que fosse barulhenta de alegrias,
Fazendo muita cantoria
Dessas que já não lembramos mais.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Presentinho

Ei mocinha.
Guarda esse trovão que trago pra você.
Ele é desses bem barulhentos
Que faz a terra tremer quando se solta.

Ei menininha.
Guarda esse sonho que sonho pra você.
Ele é desses bem coloridos
Que faz arrepender na hora que se acorda.

Ei molequinha.
Guarda esse carinho que sinto por você.
Ele é desses bem sentidos
Que faz chorar e vez por outra se arrepender.

Adeus desmantelado

A hora já era chegada.
Os jumentos ja tocaram as trobetas,
O vento qeu soprava vinha do norte
E os anjos traquinas ja não traquinavam mais.

Um curió cantava meio triste,
Socó nem voava com tanta brancura,
Sabiá tinah um jaranja apagadinho
E a chuva me contava uma historinha pra dormir calminho.

Era um sentimento demantelado,
Que deveria ter gosto de uma samba antigo,
que por muito tempo foi esperado,
Mas o gosto que senti era de sanduiche e lágrimas.

aprendendo a rir

Você sorri pra mim
Que eu sorrio pra você.
Só não garanto que vou fazer bonito,
Pois, ainda estou aprendendo.

Uma fada vem toda noite me fazer companhia.
Ela me faz cosquinhas no cangote
E eu já ansaio, meio acanhado,
Umas boas risadas.

Tem também aquele papagaio,
desses que é bem verdinho,
Que vive me contando piadas de português
Ou falando palavrôes cabelodos.

Sorria pra mim
Que eu sorrio pra você.
Ainda estou aprendendo,
Mas já arrisco uma gargalhada.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Me dá

Me dá um sorriso.
Me mostra como se faz isso,
Eu prometo que vou tentar aprender.
Nunca fui muito bom nessa arte.

Em um desmantelo quanquer de sentimentos
Quem sabe eu não mostro os dentes
Que não seja pra morder.
Me dá um sorriso.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Faz comigo?

Temos que fazer isso juntos.
Podemos fazer assim:
A gente se despe de nossas roupas mundanas,
Permite que todas as cores infantis entrem em nossos olhos,
Sente a respiração um do outro,
Sente o toque um do outro,
Permite que sejamos únicos em um espaço mínimo.
Então, ficamos sem-vergonha,
E permito que você estenda a mão
E segure a minha mão
Que vai segurar a caneta azul,
Que vai escrever o papel branquinho
A estória da bailarina Rita
Que se apaixonou pelo palhaço sem nomes.
Aquele que deu a ela o brilho de um vaga-lume
Para ela colocar nos olhos,
E uma linda patativa para ela levar no ombro
E dançar sem medo de cair.

sábado, 12 de maio de 2007

Terceira estrela

Uma santa me perguntou pela minha alegria.
Dessas que é mulher da cintura pra baixo
E menina da cintura pra cima,
Com um pedaço de céu nos olhos e uma criança no colo.

Não sei bem onde larguei essa virtude.
Se alguem encontrar me devolva.
Ela é pequena, feia, frágil e sem graça,
Mas é minha e tá fazendo uma falta.

Segunda estrela

Ela, uma nave estelar
Forrada de celofane rosinha
e espelhos com bord laranja.
quente, ardente, carente, vivente.

Ela, uma onça pintada
De duas cabeças.
Uma enfeitada de carinho e a outra uma verdadeira fera.
Quente, ardente, carente, vivente.

Ela, uma Santa
Com mel nos olhos e vestida de sonhos.
Os cabelos são cobertos de vil amores
Quentes, ardentes, carentes e viventes.

Primeira estrela

Emum pedaço qualquer de mundo,
Já esquecido pelos Santos.
Uma Deusa castanha, herdeira dos Mouros,
Com três moedas no bolso estica seu corpo.

As três moedas são de ouro.
Uma é uma bailarina vermelha despida de pudor,
A outra e um anarquista incendiário sem muito trato
E a última um poeta sem muito valor.

Essa Deusa tem o vestido feito das alegrias,
Seu cabelo é trançado pelos sonhos alheios,
Seus chinelos roubados de um franciscano qualquer
E sua mente que seja eterna.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

pedido a uma estrela

Minha querida estrela do norte.
Sei que é muita ousadia desse velho galego,
Mas, por meio destas modestas linhas,
Venho pedir sua mão em casamento.

Vamos combinar assim:
Prometa para mim que vai pensar
Na minha promessa de prometer
Me casar com você.

Pelos séculos e séculos
Amém

3X4

Vamos fazer assim.
Você falou que queria pó para o rosto,
Pois, tinha ficado vermelha na última tentativa.
O que não acho que seja verdade.

Eu vou passar na lua pra pegar um pouco do branco dela,
Depois paro numa estrela pra pegar brilhinhos pros seu olhos
E por fim paro num buraco negro amigo para pedir um pouco de escuro.

Ai a gente constrói uma câmera intergaláctica,
Faz uma pose espacial,

Davi contra três Golias

Mas moço que coisa injusta!
O primeiro que veio mostrou uma dentadura branquinha,
O outro estava montado num alazão impecável,
O terceiro vestido com linho importado.

Olhe só para mim.
Magro, feio, sem cavalo ou roupas caras.
Só venho com essa estrela cadente
Que embrulhei num crepom vermelho.

Será que ela dança comigo?

Negra Rainha

Minha negra santinha,
Que acabou de sair do mar
Com os cabelos cobertos de estrelas
Tende piedade de mim, pobre cavaleiro.

Minha santa Negra,
Com teu vestido de sonhos
E com a pele desenhada de rosas,
Perdoa a fraqueza de um velho errante.

Minha dadivosa negrinha,
Que meu passado não me condene,
Nem meus erros me afundem
Santa negra do mar.

Que tuas flores vermelhas
Minha negra Rainha
Me mostrem o caminho de minha vida,
Seja ela qual for.

E se eu, velho cavaleiro, não for,
Digno de tua atenção,
Pelo menos não me chame pelo nome.
Aquele apelido infantil é mais carinhoso.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Coisas de uma vida

Já tenho uma lata de cheiro de chuva te esperando.
Eu mesmo fiz uma bandeja de estrelas cadentes docinhas.
Preparei uma jarra só com sorriso de criança,
Desses que faz cosquinha quando se bebe.

Mas você não vem!

Banzo

Apaga esse fumo e me empresta esse café pra beber?
Desliga essa vitrola com mundo livre,
Já não muda tanto assim,
E vai sentir a cor de uma noite qualquer lamber teu ser.

Me empresta o que não se sentes.
Quem sabe não encontro um sentido,
Algo que seja vago, promiscuo.
Ou até mesmo um sentimento escondidinho.

Pelos séculos e séculos... Amém

O baile em que o anjo que esconde as asas encantou o cavaleiro

Era o palco perfeito pra se apaixonar.

Um terreiro de usina onde o tempo não se faz presente,
Os canários já cantavam a festa junto com os papa-capins.
E São Pedro mancomunado com Santo Antônio
Fez um batalhão de divindades se arrumarem para o baile.

Era o palco perfeito pra se descobrir.
No meio dos celestes convidados tinha um anjo.
Dessas das mais marotas,
Que só de pirraça e pouco caso esconde as asas pra fazer charme.

Era o palco perfeito pra se perder.

Ela fazia a poeira subir com o movimento de sua saia estampada.
E dançava solta como poucas.
Com giros embriagados, no entanto com vil firmeza
Caia de um lado, mas não ia, caia do outro, mas não vinha.

Era o palco perfeito pra se viver.

Fez logo questão de puxar a cantoria.
Ela cantava rouca como poucas,
Com a voz suava
Ela solfejava, semitonava e até gargalhava.

Era o palco perfeito pra se ter.

Eu tentei de tudo pra chegar perto,
Mas, como se fosse por gosto, e só pra machucar os coração
A desatenta nem me via.
Com movimentos exatos de cabeça desviava, evitava e esquivava.

Era o palco perfeito pra se retirar.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pedido sem-vergonha

Menina das estrelas me empresta teu brilho,
Mas não saia daí do céu.
A lonjura é muito grande
E o tempo muito cruel.

Me manda pelo amigo bem-te-vi.
Já pedi para ele ir ai buscar.
Embrulha em um papel crepom amarelinho
E despacha a encomenda.

Menina das estrelas, por favor, me empresta um pouco desse brilho.

Fidelidade

Sou um cavaleiro velho, marcado
E já mordido pelas serpentes peçonhentas da vida.
Tenho sorte e vantagem em minha luta
Pois soldados fiéis acompanham minha lida.

Não sejam cruéis, nefastos guerreiros.
Não me abandonem nunca.
E em meu leito de descanso eterno
Sorriam de minhas quedas infantis.

Pelos séculos e séculos
Amém.

Combinação

Pequena menina do mar
Por que tanta crueldade?
Me permita vacilar.
Eu quero fraquejar.

Não. Não me pegue pela mão,
Não me faça entrar nessa ciranda.
Já estou vencido, cansado.
É só um breve sono eterno.

Vamos combinar assim:
Vá na venda do velho Ibrahim
E me traga celofane azul, o mais azul
E também as continhas brilhantes que ele tem.

Vamos combinar assim:
Fazemos um céu lindo e estrelado no nosso teto,
Deito no teu colo pueril em aconchego
E ficamos em eterno contento

Afago na alma

Em um dia de sol perene
Minha fiel montaria estava arisca,
Se sentiu em alforria
E me fez sentar no chão.

Levantei e bati a poeira.
Notei mais três marcas profundas.
Voltei lentamente até meu castanho,
E com um leve carinho pedi desculpas.

Ele se fez espantado.
E com o mesmo carinho cobri as marcas
Para não constranger a montaria
E retomamos nosso caminho.

Pelos séculos e séculos
Amém.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Quanto tempo?

O Rei Sol não arreda pé.
Teima em não arriar
E diz que só dará lugar
A uma vil Lua amiga.

Faltam 33 tempos.

Todos os ponteiros dos céus já marcam.
Não espere por mim, Rei Sol, ele diz.
Só darei lugar a um vil Luar amigo.
Não espere pelo Sol.

Faltam 33 tempos.

Procure no tempo
Esse egoísta e implacável,
Senhor das dores e amores.
Ele vai sanar angustias e sentimentos.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

BIS

Troco uma fronha por um coração.
Troco uma toalha molhada por um passeio de mão dadas.
Troco um lençol por um corpo quente.
Troco um par de meias novinhas por um pé coladinho no meu.
Troco um chuveiro por uma mão leve fazendo cafuné em meus cabelos.
Troco sentinelas por um cavaleiro amigo meu.
Troco um saco de pão dormido sobre a meso por uma noite de baralho.
Troco um sorvete por um segredo de sangue.
Troco uma camisa do meu time favorito por um abraço.
Troco um radinho de pilha por uma música de cazuza no pé do ouvido.
Troco um prato de feijão por um olhar cativo.
Troco um cobertor por um beijo teu.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Menininha da quermesse

Quero me casar com essa menina
Que veste saia branca rendada à mão.
Ela anda leve na beira do mar
Puxando as ondas com seus passos.

A espuma das ondas não chega nem perto
O branco da saia dela
E o mar se arrebenta com toda ira
Só de inveja

Quero me casar com essa menina
Que veste saia branca rendada a mão
Ela tem beijo com gosto de bebida gasosa
Que me faz ficar com borboletas no céu da boca.

Regresso a duas mãos

Iemanjá, Rainha dos mares, já anunciou:
A senhora já volta.
Os mares cantam em glória
Pelo fim da amarga saudade.

As ondas, tuas amigas, lambem areias seculares
Que tercem teu ser.
Cavalos marinhos trazem o esplendor,
E socó enrosca belas tranças em teus cabelos.

Nem o tempo, cruel carrasco
Pode desmanchar teus castelos de areis
Rainha minha.
Teu servo eterno.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Lonjura

Lá estava ela na janela
Vestida com as mais belas asas de borboleta,
Alheia a vida e a todos
Como se o tempo não fosse carrasco nem da vida nem dos sentimentos.

Lá estava ela na janela.
Linda, leve.
Cabelo coberto de estrelas
Que uma cigarra marota trouxe do céu.

Lá estava ela na janela.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

O nefato direito d ementir do poeta

Sou o guerreiro de uma única e velha espada.
Coberto de pó e de rugas,
Com pouca providência no alforje
E de montaria magrela.

Mas na verdade eu queria mesmo era ser poeta.
Eu teria o direito adquirido de mentir.
Ai eu seria mais forte e pleno,
Muito mais belo e vistoso.

Já teria derrubado impérios
Com apenas um movimento de meu dedo
E esmagado gigantes tenebrosos
Com minhas mãos calejadas.

Um elegante gavião, desse que só os Reis têm, estaria pousado no meu ombro,
Pronto para o ataque fatal.
E em vez desse magrelo cavalo
Estaria montado numa onça pintada de duas cabeças.

Três cobras corais enormes, nunca vistas desse tamanho, me cobririam o peito.
Abelhas do céu me trariam seu tesouro.
O mel mais doce e dourado já provado
E o amigo sabiá cantaria meu sono cavalariço.

Eu não teria um nanico banhudo como escudeiro.
Meu guarda-armas seria uma jovem camponesa
Despida de roupas, de pudores e de todas as amarras
E que trataria muito bem minha espada.

Teria uma esposa em cada porto
E todo dia um papagaio amigo me traria no bico
O umbigo caído de maduro
De mais um herdeiro nascido.

Como seria bom ser poeta.

Reza de entrega do vil cavaleiro

Essa deusa de olhos rasgados
Me pega pela mão,
Me enrosca nos fios negros de seu cabelo
E me mostra uma infinidade de cores vermelhas.

Nua da cintura pra cima,
Montada em cavalo branco
E com pose de Rainha milenar,
Guarda um tesouro inigualável.

Vários cavaleiros já caíram
Pelas mãos da fêmea divindade
Que com golpes precisos
Dilacera corações errantes.

Não tenhas pena de mim grandiosa Deusa
Pois também sou cavaleiro.
Pelos séculos e séculos
Amém.

Volta para Rainha Helena do Reino da onça pintada

Escuta, Helena da onça pintada, o gavião já não para de piar.
As borboletas já pintam o ar,
A amiga patativa trás meu canto distante.
Montado em meu castanho estou voltando.

Já volto tardiamente.
Com peito aberto por espada ou por amores vassalos.
O olho já é de vidro,
Rugas, feito rios, cortam minha cara.

Prepara nosso lar
E chama os amigos para beber.
Levo cachaças que saqueei
De donzela ingênua que de seu gargalo me apoderei.

Prepara nossa mesa
E chama os amigos para comer.
Levo carne de primeira
Que de uma refinada dama o lombo amaciei.

Prepara nossa cama
Chama os amigos para provocar inveja.
Levo experiências que de longe conquistei,
De damas que o nome nem lembro mais.

Pede pra o amigo azulão compor
Uma bela canção para minha vil chegada,
Pois chegarei montado no castanho
Escoltado pela minha fiel onça pintada, digna de um Rei.

Chegarei pleno,
Gritando vitórias,
Pisando folhas secas
E com a paz dos sabiás.

terça-feira, 24 de abril de 2007

O cavaleiro se depara com o espelho do seu reinado.

Eu sou o Velho Galego.
Tenho duas Rainhas herdeiras.
A primeira é a Rainha do reinado dos Cachos Dourados.
A segunda é a Rainha do Reinado dos Olhos de Mar.

Em nome delas carrego meu escudo com trezentas serpentes,
Cem de prata,
Cem de ouro
E cem do mais refinado metal.

Uma espada na mão direita
Cravejada de alecrins,
uma armadura de sonhos
E um alforje carregado de doçura.

Dos meus gametas correm cores,
Do meu carbono sujem Reinados,
Das minhas dores luz,
Do meu amargo o eterno pó.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Amada Rainha do Reinado dos Olhos de Mar

Chegou montada no vento
Em tempo de chuva
Que exorcizava a terra
E que anunciava o reinado dela.

O mestre ferreiro já gritava:
Vem, vem, vem, vem...

Papa-capim chegou na janela,
Concriz se assanhou no jardim,
Jandaia emprestou suas cores,
Canário trouxe flores amarelas.


Os anjos deram o sinal.
Oito bicos de lacre prepararam o trono com crepom
Azulão cuidou do portão
A elegante sabiá preparou uma mesa especial de frutinhas.


E o mestre ferreiro gritava:
Vem, vem, vem, vem...

É chegada a hora da segunda Rainha.
Com manto de celofane,
Coberto de pirilampos
É a Rainha com olhos cheios de Mar.

O velho galego te recebe
Com o alforje carregado de doçura.
De espada na mão te proteger ele jura.
Amada Rainha do Reinado dos Olhos de Mar.

E o mestre ferreiro gritava:
Vem, vem, vem, vem...

terça-feira, 17 de abril de 2007

Afe minha menininha

Afe minha menininha.
Me veste da fadas amarelinhas,
Cria uma tromba enorme no meu rosto,
Me faz pescar num rio gelado em nosso quarto.

Me mostra o sapo que pulou por trás do sofá,
As gaigotas pregadas num teto coberto de estralas
E papel celofane rozinha pra compor.
Afe minha menininha.

Vou te mostrar como se escreve um A
E você vai rir.
Vou te cantar a música das minhocas,
E você vai rir.

Afe minha menininha.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Maria do Rio.


Eita Maria.
Com seu olhar gateado e cabelo trançado.
Nua da cintura pra cima,
Nua da Cintura pra baixo,
Me levou pra ser o cheiro do rio
E ver ela ser a Lua Minguante.

Eita Maria.
Vem montar em meu cancão castanho,
Com 4 mil serpentes decorando o peito,
Mil de ouro, mil de prata, mil de bronze
E mil do mais refinado metal.

Eita Maria do Rio.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Folia do velho galego

Venha
Vou preparar uma fantasia cravejada de vagalumes,
Costurada com linhas feitas de céu
Que sempre vai ficar presa na soleira da porta da alegria
Despindo vc de toda sua melancolia,
Fazendo você se arrepiar com o vento da alegria,
Pois, já não acreditas em sombras
Que faz de tudo escuro!
Agora você é nua como carnaval!

quinta-feira, 22 de março de 2007

Meu colibri

Ela se materializa numa cápsula eternal
Forrada de celofane rosa
E espelhos com bordas laranja.

Vem minha menina que o velho cavaleiro te espera.
Mandei preparar a melhor mesa de estrelas
E enfeitar as janelas d cristal com o canto mais belo da sabiá.

O canário já cantou sua chegada,
O ferreiro já gritou para o cancão de fogo.
Já se faz barulho como dos tropeiros vindo da Borborema.

Chega montada no vento,
Enrolada num curisco.
Vem Nina, meu colibri amado!

terça-feira, 20 de março de 2007

topvolta

Em trindade encontramos um prefeito que vivia com medo. Telefonema falando que iria matar, carta escrita que iria acabar com ele.
O vice-prefeito também vivia a mesma parada. Telefonemas colocavam a famíla do político em pânico.
DETALHE
O prefeito e o vice são brigados. Romperam politicamente e também a amizade foi para as cucuias.
O povo da cidade vive com medo, de dezembro até hoje foram mais de 10 homicídios, prostituição é natural. Isso tudo no maio polo do gesso do estado.

É nessa hora que concordo com Virgulino: "Caro senhor governador, fica combinado assim. Dá linha do trêm para cá fica sobre meu comando, da linha do trê´m até a beira do mar quem manda é você..."

Acredito que o sertão estaria melhor na mão dos cangaceiros.

Voltamos no quarto dia sem muita pena da cidade.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Minha princesa da luz da madrugada

Vai buscar a luz da noite menina.
A luz da mia noite
Tu sempre queres ver a meia noite,
E esbarrar no não de tua ama.

Vou pegar o bordado,
Pintar o cercado,
Comprar o celofane
E enfeitar com primor as nossas brincadeiras.

Traz tua alegria
Num pote de geléia verdinha.
Traz tua alegria
Num livro pra pintar as joaninhas.

Vem minha menina
Vamos ver a luz da meia noite,
Vem minha princesa
Que o tempo é implacável.

E quando tu puderes ver
A boca da madrugada aparecer,
Talvez eu , cansado de peleja
Fecharei os olhos e te deixarei a beleza.

o vai e volta do velho galego para o sertão

Voltei da minha itrepida ida para o sertão!

Um dia inteirinho dentro de um carro, assim pude ver como o Sertão tá lindo. Mas vamo ver como a coisa se deu.
Na ida, de cara, encontramos um caminhão de cerveja tmbado na 232. Isso não me agradou nada, só tinha uns 45 minutos de estrada e já tinha merda na frente da gente.
Seguimos pelo Agreste sem grandes problemas, pra falar a verdade dormi um bocado e só acordei nos Pare X Ande" de São Caetano. Enfim, Saimos do Agreste por Pesqueira e nada de novo lambia a mente da gente. Mas uma coisa estava diferente da imagem habitual, TUDO tava verdinho.
Entramos no Sertão por Arco Verde e estava verdadeiramente verde!
Depois passamos pelo Riacho Cheio, que vivia no barro. Ele estava cheio!
A vegetação, que geralmente era de um tom amarelado que aumentava a sensação do calor, tava completamnete coberta de um verde vivo que dava gosto.
Ja depois de Arco Verde a noite vinha angolindo o mundo e tudo que era de mosquito veio para a estrada escoltar nosso carro.
Alguns vagalumes fizeram o amargo, mas belo, favor de esbarrar no carro espalhando um verde esmeralda, em vorma de V, no nosso pára-brisa.
Depois entrei numa doidera de fixar o olhar nos mosquitos. e ignorar a luz do farol do carro. Controlei a respiração, foi hipnótico. Os mosquitinhos passando nuam velocidade brutal, naquele escuro. Me senti dentro de uma nave espacial emtrando an velocidade da luz.
(detalhe que eu não fumo maconha nem estava bebado)
rararararar
coisas do jornalismo mesmo!
Paramos em Salgueiro para colocar gasolina. Foi ai que vi o primeiro exemplo da miséria sertaneja. Meninasde 12, 13, 14... fazendo programa com caminhoneiros!
:(
A gente sabe que é verdade, que isso tem em todo canto, mas ver elas naquela vida é foda!
:(
aiai
Bom...
Batemos "topvolta" em Trindade.
Depois conto mais que tenho que ir para uma pauta agora!

segunda-feira, 12 de março de 2007

apois lá vai...

Tive um fim de semana daqueles.
Na sexta tomei umas geladas com bons amigos e ainda fui foi atrevido, tomeu uma lapada de cana, lentamente, só pra sentir o gosto.
Aprendi a beber cana e descobri que aquela amaldiçoada tem gosto!
rararara
E é boa.
Pitú bem geladinha com cerveja eu recomendo.
rarara
(Quero saber quem falou pro dono da pinga que pitu tem acento agudo???)
A manha tá no primeiro gole, exatamente, no primeiro gole.

No sábado não fiz nada.

já no domingo...
haaaaaaaa meu totalmente mirabolante programa dominical!
Acordei bem tarde pra ir trabalhar. Plantão do caderno de Cidades.
Primeiro foi uam galera que vai caminhar pela beira do rio Capibaribe. (Essa foi light!)
Depois fui acompanhar o enterro de uma criança que morreu por conta de uma meningite. (Tudo leva a crer que foi erro médico. O pirralha tava com o pescoço dolorido a uma semana e ninguem desconfiou. VIRISE É O CARALHO!!!)
E pra dar a lapada final uma rebelião no Cotel, só. Fome, chuva, fome, vontade de dar uma mijadinha, mais fome, menino chorando, família agoniada e polícia sem saber o que fazer, só pra variar.
Acabei o domingo escrevendo pra uma cadeira da universidade que sitno que vai me lascar!
rararara

Hoje é segunda e a semana ja promete!
Vou viajar para o sertão, bem, era o esperado. Já são 11h7 e o reporter não deu as caras ainda, detalhe, tava marcado pras 10h.
rarararar
Quando eu voltar da minha odisseia sertaneja digo rap vocês o que eu vi por lá!
Lá me vou ao encontro do vel quente que cobre os beijos de cera alaranjado.
Um forte abraço no pancreas!
Xêru!!!

sexta-feira, 9 de março de 2007

ai é foda!

Esse período estou sem muita inspiração pra escrever, mas vendo as coisas malucas como estão acho que deveria me pronunciar. Afinal de contas o velhote que matou a ex-namorada vai se pronunciar, o Bush pronunciou, o Lula também...
Por que eu não deveria????
Fiquei de cara com o que é notícia no Brasil.
Fiz na segunda uma matéria sobre o Nascedouro de Peixinhos. Foi uma pauta ótima, dessas que você sabe que dali vai sair coisa boa e que o povo vai poder crescer com o aquele projeto.
Fiquei sabendo no mesmo dia que o presidente da Alemanha vem pra Peixinhos dar uma olhada no projeto.
Ai você me pergunta: “que tem de errado nisso?”
Ai eu respondo...
Quem porra aqui sabe o motivo da visita do chefe de estado maior da Alemanha?
Em que projeto ele investiu tanto pra ta aqui?
Pois bem...
O caríssimo presidente dos EUA tava aqui nas terras Tupiniquins e todo mundo sabe o motivo. Sabe o que ele comeu, onde ele dormiu, onde ele tocou reco-reco...
Pois é...
O cara vir aqui pra declarar que não pode parar de fuder a gente com as tachas de importação é notícia pra uns quatro dias, mas um outro gringo investir num bando de miserável só sai nos jornais daqui e olhe lá!
É isso.

sábado, 3 de março de 2007

Implacável


O implacável não é o sol,
Nem o céu,
O mar nem o farol.

Implacável não é luz,
Nem o fogo,
O gozo ou a cruz.

Implacável não é chuva,
Nem o temporal,
Menos ainda a água turva.

Implacável nem é o atirador,
Nem morte,
A perda ou a dor.

Implacável não é o amor,
Nem um verso,
O tesão nem o furor.

O implacável passa mais rápido que o vento,
Não pede aprovação ou convencimento.
Implacável mesmo só o tempo.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Vai mas Volta

Acorda Maria e vai na feira
Vai buscar papel celofane pra enfeitar meu céu,
Vai buscar lantejoulas pra fazer as estrelas,
Mas volta e se abriga na minha eira sem beira.

Nordeste emancipado sem batalha de badoques nem nada


Hoje não vou falar de amores

nem de sentimentalidades,

e ques tões do coração

ou da vil vaidade.



Hoje vou falar da caridade

que a TV e outros meios de comunicação

fazem a população

e com muita criatividade.



Hoje fiquei emocionado

quando vi uma apresentadora,

com cabelos de lagarta bestial voadora,

falar choroza dos crimes barbaros

que sofreram algumas crianças

espalhadas pelo nosso Brasil.



Ela falou do caso do Menino João Hélio,

que durante um assalto

foi brutalmente arrastado

e por sete quilômetros, "esquartejado".



Falou com agonia do caso de uma menina

que nos braços fraternos

de seu avô materno

levou um tiro no peito durante assalto.



Recordou melancólica a menina das rifas

que com bravura e inconsequência

negou a dois bandidos,

todo dinheiro.

Onze facadas costaram doze vinténs.



E sem muito arrudeios

amarrou a cara,

falou braba

e pediu pelas crianças do Brasil

que tanto vivem pela sorte.



E com isso ela me dispertou.

Com muita alegria

temor e ouzadia

posso gritar que o Nordeste EMANCIPOU.



No Brasil que ela ama

não tem Recife como a capital mais violenta,

não tem chacina no Campo das Aeromoças que atormenta,

nem crinças que também encontram a Caetana.



Lais, natural de Limoeiro,

sequestrada, morta, estuprada,

esquartejada, queimada

não É do Brasil noveleiro.



Sabrina Helem, morava na Boa Vista,

foi estuprada, teve o pescoço quebrado,

em um balde seu corpo foi guardado,

tambén não viva nesse "Brasil de Artista".



E tantas outras que são molestadas

por estudantes universitários

que com muita sorte

não encontram as várias Caetanas.



Essas crianças verminozas e amarelas,

que nasceram na lama de Josué de Castro,

que pra muita gente só serve de lastro,

não são do Brasil das Novelas.



O nordeste foi emancipado

sem a molecada ler nos lívros de estudos sociáis,

sem briga de badoque

e sem niguem ser avizado.







domingo, 25 de fevereiro de 2007

Recife





Minha querida Recife,
pequena, mas , porém decente.
Que coisa tão bonita
olohar toda essa gente.
Como falou Rui Barbosa
"Conosco ninguem podemos"
Dançar o frevo quente,
cantamos a ciranda da gente.
Passeamos nas ruas
que nem antigamente
Da Conde da Boa Vista
ao Diário de Pernambuco
Que essa cidade eu olho é linda,
essa cidade quero sempre.
letra: Ersto Vasconcelos

foto: Velho Galego

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Me lembro perfeitamente

Eu me lembro perfeitamente
Era um feriado desses que ninguém faz nada,
Só que eu lembro também que tava trabalhando feito cão.
Fazia um sol que doía,
Mas se não me engano eu tava bem molhado pela chuva.
E eu vinha até bem tranqüilo
Só tava aperreado com umas contas que já tinham vencido.
Enfim!
O importante mesmo é que era janeiro,
É, era exatamente janeiro.
Só me pergunto o que eu tava fazendo
Pulando frevo nas Marins do Caetés?
Por Deus!!!
Rarararararara
O que importa mesmo não era janeiro ou frevo
Era meu coração,
Cheio de amores e paixões.
Eu tava amando profundamente
Quatro mulheres, um cachorro e dois canários.
Me lembro perfeitamente.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

o Velho Galego vai pra cidade das colinas.

Todo ano é assim
corre de um lado,
pisa do outro
e ele sempre chega por fim.

Vem com os primeiros ventos de fevereiro
e vem pra dar o trono ao rei gordo.
Faz da sombrinha o grande bastão imperial
e dá a passista o balé verdadeiro.

E é na cidade das colinas
que se sobe ladeira,
que se pinta o rosto
e que se encontra a menina.

Todo ano é assim.
Mesma sendo diferente
O carnaval alegra a gente
E todos se encontram no fim.


e pra alegrar a alma:
"Tem tanta tristeza no meu peito
Deixa pra lá que é carnaval...
Tem muita alegia no salão
e tristeza não cabe.
O que eu faço pra acabar com a ressaca
que nunca passa.

Tem fantasia, tem beijo escondido
homem traido, esposa chorando
Mulher feia que fica bonita depois da quinta.

A esperança dói
mais que a ilusão
de ter você aqui
nos braços meus.

Tem festa, tem riso, tem coxa de fora
tem eu, panela de prassão.
Tem o meu amor dando bola rpa todo mundo
tem eu, panela de pressão.

Tinha você apontando pro meu lado
tinha o passado acordando de manhã."
(Mula Manca - Carnaval - Lula)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

O tenebroso embate entre a serpente e ela mesma

Lá vem mais uma do velho galego errante.
Ele vinha bem acomodado em sua magrela montaria,
Cavalgando pesadamente pelas terras vermelhas onde os ventos são celestiais
E favor por ali Deus já não fazia.

O dia estava quente,
tão quente que fervia,
E o Rei Sol castigava impiedosamente o velho errante.
E continuava sua busca sem apatia.

Bem no horizonte, turvo pelo calor,
ele pode ver uma velha jaqueira a seu favor.
De pronto virou sua montaria
E pra lá sem nem pestanejar desembestou correria.

Desmontou de seu cavalo,
largou sua armadura de couro no chão
E deitou na grama pra cochilar.
Roncava que mais parecia um leitão.

De repente, um poderoso sibilo interrompeu seu sono.
O barulho era feito o do trovão.
Sem entender direito o que por ali acontecia
Ele se sentou na grama pra ver que corria.

Uma Besta milenar em forma de serpente coral,
Com cores vibrantes
E dentes afiados
com ela mesma discutia.

A cabeça pelejava com o rabo
E o rabo se danava com a cabeça.
A brega se dava de forma nefasta
Por motivo das avessas.

Tudo aquilo porque
O enxerido do rabo queria guiar o corpo
Por conta de inveja
E pra trás deixar a cabeça.

Era dentada de um lado, chicotada do outro,
E dava um nó e desfazia o arremate
E no fim das contas, o rabo já meio baqueado fraquejou
E a cabeça saiu na carreira achado que tinha ganho o combate.

Já ia toda orgulhosa e serelepe
Quando notou que estava presa.
O vil rabo tinha se engendrado nas raízes
E falou que dali só sairia se a cabeça lhe fizesse uma surpresa.

A cabeça deu-se por vencida e recuou.
E por conta do novo posto adquirido
O rabo pomposo e orgulhoso
foi pra frente guiou.

A cabeça morta de vergonha fechou os olhos
E se colocou no lugar que lhe restava.
Ficou a disposição
Do rabo que a guiava.

A cobra completamente cega
Saiu do meio do mato
E desavisada que estava
Seguia pelo descoberto barro.

A pobre cobra não notou
Um antigo carcará que ali já rondava.
Com suas penas flamejantes ele arremeteu
A vida da cobra ali findava.

Foi um bote só
Certeiro como um bisturi.
Era uma vez uma cobra que andava de ré.
O velho galego caiu na risada, então voltou a dormir.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Hoje bem que poderia ser feriado!

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia do riso,
Dia do sol,
Dia da rua,
O dia de ficar liso,
Ou até o dia de em que a VIDA MUDA.

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia em que aprendi a ler,
O dia oficial de ligar para os velhos amigos,
O dia de escovar os dentes, ou não,
O dia de não ver TV.

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia universal de não levantar da cama,
O dia de tomar água de coco,
O dia de fazer um filho,
O dia de rolar na lama.

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia de ir ver os avós,
E fazer sexo com quem ama, ou com você mesmo,
Dia do cachorro,
Dia de gritar até perder a voz.

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia mundial de tomar sorvete,
O dia de só usar chinelos,
Dia de não ver as horas,
O dia de sair vestido de verde.

Hoje bem que poderia ser feriado.
O dia de ler Siddharta,
De escutar Raul,
O dia de ser outra pessoa,
O dia de pegar cigarras.

Hoje bem que poderia ser feriado.
ivan alecrim