segunda-feira, 2 de março de 2009

Cantada postal de amor

Canta azulão, canta miudinho

Que o canarinho

Trouxe uma carta de amor.

 

Estala canarinho, canta mensageiro

Que diz a carta

Que meu amor vem ligeiro.

O dia que Guadalupe se fez Confeito

Hoje desci daquela serra

Montado em meu belo Castanho.

Minha espada Guadalupe pronta para o comando,

Minha armadura de couro cravejada de estrelas do leste

Servindo de proteção contra o estranho.

 

Foi então que uma figura fantasmagoria

Surgiu de pronto na minha frente

Como quem acabou de sair de uma furna.

Montado em um rubro imbua

E na cintura, presa por uma pita encarnada e azul,

Uma alva flor de Jasmim.

 

Puxei minha Guadalupe

Com a mesma velocidade que meu sangue gelou

E outra parte mais enrugada  de meu corpo de contraiu.

Fiz cara de mau e careta de papangu

Mas nada espantou o velho mal assombro.

 

A montaria bestial, que atendeu por Calí,

Parou com um leve toque de mão

Do velho de longas barbas.

Calça caque e remendada,

E camisa agandolada aberta no peito.

 

 

 

Venha de onde vier saiba que sou ruim.

Falei no ponto máximo de minha angustura.

Sou feito dentada de Cobra Coral, o cabra se lasca.

E saiba que tenho couro e sangue de Onça,

Faca não entra e se entrar não larga.

 

Então surge por trás da groça barba

Um sorriso belo e fraterno.

Sem entender a situação

Continuei de guarda armada,

De Guadalupe e Coração na mão.

 

Calma meu bom rapaz.

Venho de onde as coisas não são Reais,

De onde viver também é bom de olhos abertos.

Guarde sua espada e desarme a alma,

Isso não é mais necessário.

 

A agressividade é um nó, um nó cego.

De nó em nó ela se dá um laço,

No fim da jornada o laço se desfaz

E de tanto nó é um vindo que se faz.

Creia, não existe ferro ou aço que cure.

 

 

 

 

Digo sem mede e não erro:

Não gaste nó por pouca coisa.

Tire esse sentimento de dentro de você.

Como diria Tinhô Engraxate das Guararapes:

Bala deveria ser trocada por Confeito de caramelo.

 

 

Fim da Jornada

O Pintassilgo me cantou baixinho no ouvido:
A Rainha do Sol,
Abriu uma furna secular
E prendeu meu candeeiro azul.

Na porta fez guarda atenta
Um batalhão furioso
De marimbondos-caboclos
Mestrados na traição.

No comando de fuzilaria
Segurando com orgulho uma vara de Mestre Cirandeiro
Regia o batalhão com maestria
Uma velha, sarnenta e raivosa Onça pintada do lajedo.

A Rainha do Sol fechou os olhos.
Um nó apertou a garganta
Onde não se ataca mais um paletó
E fez descer no gogó
A amargura da lágrima.

A Rainha do Sol já não tem mais a cura.