terça-feira, 29 de maio de 2007

Encomenda

Uma jandaia verdinha vei me caguetar
Que ela disse que vinha
E que chegaria montada num corisco
Perfumado com cheirinho de mar.

Enfeitada com vaga-lumes no cabelo
Ela vem com um presente no colo,
Embrulhado com sorrisos e alegrias
E a amarrado com um prateado luar.

Dentro do celeste pacote,
Preparado com tanto primor e carinho,
Deve ser uma bela surpresa,
Dessas que faz a gente não dormir um dia antes.

Minha amiga jandaia verdinha me caguetou
Que deve ser uma estrela cadente,
Colhida numa intemperância qualquer do tempo
E que tinha meu nome gravado nela.

Ditadozinho sem-vergonha

Queria saber quem foi o maldito,
Que, por falta do que fazer,
Teve a falta de sabedoria de blasfemar
Que quem rir por último rir melhor.

Eu, cabuloso que sou,
Resolvi esperar na rabera da fila só pra ser o melhor.
Mas já to ficando aperriado,
Ainda tem muita gente até chegar minha vez.

Esse infeliz poderia tar dito
Que quem riri mais alto riri melhor,
Ou ainda quem rir sem babar é o campeão.
Por que ele teve que inventar de me mandar pro fim da fila rapaz?

domingo, 27 de maio de 2007

Um dia depois de outro dia que vem antes de qualquer dia.

Já é dia de missa.
Dia de banho perfumado,
Dia de bailinho com as mas belas flores,
Mas um dia de cavaleiro solitário.

Já é dia de missa.
O circo ja desfez sua alegria,
O palhaço tambem desfez sua maquiagem,
Mais um dia de Cavaleiro solitário.

É dia de missa.
As bolhinhas já não fazem mais cosquinha no céu da boca,
As saia do vento acabam de se rasgar
E é mais um dia de cavaleiro solitário.

É dia de missa.
Um saguim desacanhado meu veio no ombro para falar
Que a cigarrinha para o mar já não canta mais.
É, mas, é um dia de cavaleiro solitário.

Já se vai o dia de missa.
A tropa de jumentos já vem pisando o tempo
Sem a piedade que deve te o manso.
Se desmantela mais um dia de cavaleiro solitário.

Já se foi o dia de missa.
Um leviano gosto azul de saudade dança na minha frente,
O balé de dois dançarinos que eu nunca vivi.
E vem mais um dia de cavaleiro solitário.

Agora já não é mais o dia de missa.
Alforjo minhas rugas, minhas dores, meus rancores e amores
Para poder carregar nas mãos calejadas apenas a felicidade de duas moedas de ouro.
Lá se vem mais um dia de cavaleiro solitário.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

La niña

Lá estava ela nas plantações de Dom Seu Pai
Onde os negros açoitados pelo tempo
Colhem as amargas lágrimas
Que, cuidadosamente, enrolam os sonhos alvejados.

Completamente vestida por um panamá,
Vinha com uma cigarra cantando em seus olhos,
Mal podia ver, desatenta morena que se abanava com suspiros roubados,
Que destoava de todo aquele ambiente feroz.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Voadeira

Eita menina voadeira.

Vestida de papel crepom em dias de chuca,
Como se assim não desmantelasse sentimentos,
Cabelo cheirando a jasmin na florada
E a boca coberta de sonhos alheios.

Chuta a espuma do mar como se não fosse amada,
Pisa a reia da praia com os pés do tempo
Que leva a menina a qualquer vil relento
Destruindo os suspiros de amores instantâneos dos marinheiros.

Eita menina voadeira.

Acaba com minha pose de cavaleiro,
Mostrando um lado matreiro de menino já enquecido,
Enche minha brriga de cosquinha,
Como se tivessem mil cavalos do cão em revoada.

Se me caisse uma estrela

Se um dia me caisse uma estrela,
Que fosse bem aqui no miolo de minha mente,
Mas que não me arrombasse os miolos
E nem me tirasse as estórias que conto.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que viesse bem devagarinho,
pendurada numa fieira de jogar peão
E embrulhada em papel crepom azulzinho.

Se um dia me caisse uma estrela
Que caisse com cheirinho de chuva qundo bate na terra,
Dessas que cai sem aviso no meio de dezembro
E deita a gente numa rede pronto pra cochilar.

Se um dia me caisse uma estrela,
que fosse do lombo de um sabiá,
Desses que cantm bem afinadonhos
E faz menina se aquetar na hora do mais colorido crepúsculo.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que viesse mansinha e suave,
Como quem anda nas costas de um jumento
Vindo acompanhado dos tropeiros da Borborema.

Se um dia me caisse uma estrela,
Que fosse barulhenta de alegrias,
Fazendo muita cantoria
Dessas que já não lembramos mais.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Presentinho

Ei mocinha.
Guarda esse trovão que trago pra você.
Ele é desses bem barulhentos
Que faz a terra tremer quando se solta.

Ei menininha.
Guarda esse sonho que sonho pra você.
Ele é desses bem coloridos
Que faz arrepender na hora que se acorda.

Ei molequinha.
Guarda esse carinho que sinto por você.
Ele é desses bem sentidos
Que faz chorar e vez por outra se arrepender.

Adeus desmantelado

A hora já era chegada.
Os jumentos ja tocaram as trobetas,
O vento qeu soprava vinha do norte
E os anjos traquinas ja não traquinavam mais.

Um curió cantava meio triste,
Socó nem voava com tanta brancura,
Sabiá tinah um jaranja apagadinho
E a chuva me contava uma historinha pra dormir calminho.

Era um sentimento demantelado,
Que deveria ter gosto de uma samba antigo,
que por muito tempo foi esperado,
Mas o gosto que senti era de sanduiche e lágrimas.

aprendendo a rir

Você sorri pra mim
Que eu sorrio pra você.
Só não garanto que vou fazer bonito,
Pois, ainda estou aprendendo.

Uma fada vem toda noite me fazer companhia.
Ela me faz cosquinhas no cangote
E eu já ansaio, meio acanhado,
Umas boas risadas.

Tem também aquele papagaio,
desses que é bem verdinho,
Que vive me contando piadas de português
Ou falando palavrôes cabelodos.

Sorria pra mim
Que eu sorrio pra você.
Ainda estou aprendendo,
Mas já arrisco uma gargalhada.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Me dá

Me dá um sorriso.
Me mostra como se faz isso,
Eu prometo que vou tentar aprender.
Nunca fui muito bom nessa arte.

Em um desmantelo quanquer de sentimentos
Quem sabe eu não mostro os dentes
Que não seja pra morder.
Me dá um sorriso.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Faz comigo?

Temos que fazer isso juntos.
Podemos fazer assim:
A gente se despe de nossas roupas mundanas,
Permite que todas as cores infantis entrem em nossos olhos,
Sente a respiração um do outro,
Sente o toque um do outro,
Permite que sejamos únicos em um espaço mínimo.
Então, ficamos sem-vergonha,
E permito que você estenda a mão
E segure a minha mão
Que vai segurar a caneta azul,
Que vai escrever o papel branquinho
A estória da bailarina Rita
Que se apaixonou pelo palhaço sem nomes.
Aquele que deu a ela o brilho de um vaga-lume
Para ela colocar nos olhos,
E uma linda patativa para ela levar no ombro
E dançar sem medo de cair.

sábado, 12 de maio de 2007

Terceira estrela

Uma santa me perguntou pela minha alegria.
Dessas que é mulher da cintura pra baixo
E menina da cintura pra cima,
Com um pedaço de céu nos olhos e uma criança no colo.

Não sei bem onde larguei essa virtude.
Se alguem encontrar me devolva.
Ela é pequena, feia, frágil e sem graça,
Mas é minha e tá fazendo uma falta.

Segunda estrela

Ela, uma nave estelar
Forrada de celofane rosinha
e espelhos com bord laranja.
quente, ardente, carente, vivente.

Ela, uma onça pintada
De duas cabeças.
Uma enfeitada de carinho e a outra uma verdadeira fera.
Quente, ardente, carente, vivente.

Ela, uma Santa
Com mel nos olhos e vestida de sonhos.
Os cabelos são cobertos de vil amores
Quentes, ardentes, carentes e viventes.

Primeira estrela

Emum pedaço qualquer de mundo,
Já esquecido pelos Santos.
Uma Deusa castanha, herdeira dos Mouros,
Com três moedas no bolso estica seu corpo.

As três moedas são de ouro.
Uma é uma bailarina vermelha despida de pudor,
A outra e um anarquista incendiário sem muito trato
E a última um poeta sem muito valor.

Essa Deusa tem o vestido feito das alegrias,
Seu cabelo é trançado pelos sonhos alheios,
Seus chinelos roubados de um franciscano qualquer
E sua mente que seja eterna.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

pedido a uma estrela

Minha querida estrela do norte.
Sei que é muita ousadia desse velho galego,
Mas, por meio destas modestas linhas,
Venho pedir sua mão em casamento.

Vamos combinar assim:
Prometa para mim que vai pensar
Na minha promessa de prometer
Me casar com você.

Pelos séculos e séculos
Amém

3X4

Vamos fazer assim.
Você falou que queria pó para o rosto,
Pois, tinha ficado vermelha na última tentativa.
O que não acho que seja verdade.

Eu vou passar na lua pra pegar um pouco do branco dela,
Depois paro numa estrela pra pegar brilhinhos pros seu olhos
E por fim paro num buraco negro amigo para pedir um pouco de escuro.

Ai a gente constrói uma câmera intergaláctica,
Faz uma pose espacial,

Davi contra três Golias

Mas moço que coisa injusta!
O primeiro que veio mostrou uma dentadura branquinha,
O outro estava montado num alazão impecável,
O terceiro vestido com linho importado.

Olhe só para mim.
Magro, feio, sem cavalo ou roupas caras.
Só venho com essa estrela cadente
Que embrulhei num crepom vermelho.

Será que ela dança comigo?

Negra Rainha

Minha negra santinha,
Que acabou de sair do mar
Com os cabelos cobertos de estrelas
Tende piedade de mim, pobre cavaleiro.

Minha santa Negra,
Com teu vestido de sonhos
E com a pele desenhada de rosas,
Perdoa a fraqueza de um velho errante.

Minha dadivosa negrinha,
Que meu passado não me condene,
Nem meus erros me afundem
Santa negra do mar.

Que tuas flores vermelhas
Minha negra Rainha
Me mostrem o caminho de minha vida,
Seja ela qual for.

E se eu, velho cavaleiro, não for,
Digno de tua atenção,
Pelo menos não me chame pelo nome.
Aquele apelido infantil é mais carinhoso.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Coisas de uma vida

Já tenho uma lata de cheiro de chuva te esperando.
Eu mesmo fiz uma bandeja de estrelas cadentes docinhas.
Preparei uma jarra só com sorriso de criança,
Desses que faz cosquinha quando se bebe.

Mas você não vem!

Banzo

Apaga esse fumo e me empresta esse café pra beber?
Desliga essa vitrola com mundo livre,
Já não muda tanto assim,
E vai sentir a cor de uma noite qualquer lamber teu ser.

Me empresta o que não se sentes.
Quem sabe não encontro um sentido,
Algo que seja vago, promiscuo.
Ou até mesmo um sentimento escondidinho.

Pelos séculos e séculos... Amém

O baile em que o anjo que esconde as asas encantou o cavaleiro

Era o palco perfeito pra se apaixonar.

Um terreiro de usina onde o tempo não se faz presente,
Os canários já cantavam a festa junto com os papa-capins.
E São Pedro mancomunado com Santo Antônio
Fez um batalhão de divindades se arrumarem para o baile.

Era o palco perfeito pra se descobrir.
No meio dos celestes convidados tinha um anjo.
Dessas das mais marotas,
Que só de pirraça e pouco caso esconde as asas pra fazer charme.

Era o palco perfeito pra se perder.

Ela fazia a poeira subir com o movimento de sua saia estampada.
E dançava solta como poucas.
Com giros embriagados, no entanto com vil firmeza
Caia de um lado, mas não ia, caia do outro, mas não vinha.

Era o palco perfeito pra se viver.

Fez logo questão de puxar a cantoria.
Ela cantava rouca como poucas,
Com a voz suava
Ela solfejava, semitonava e até gargalhava.

Era o palco perfeito pra se ter.

Eu tentei de tudo pra chegar perto,
Mas, como se fosse por gosto, e só pra machucar os coração
A desatenta nem me via.
Com movimentos exatos de cabeça desviava, evitava e esquivava.

Era o palco perfeito pra se retirar.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pedido sem-vergonha

Menina das estrelas me empresta teu brilho,
Mas não saia daí do céu.
A lonjura é muito grande
E o tempo muito cruel.

Me manda pelo amigo bem-te-vi.
Já pedi para ele ir ai buscar.
Embrulha em um papel crepom amarelinho
E despacha a encomenda.

Menina das estrelas, por favor, me empresta um pouco desse brilho.

Fidelidade

Sou um cavaleiro velho, marcado
E já mordido pelas serpentes peçonhentas da vida.
Tenho sorte e vantagem em minha luta
Pois soldados fiéis acompanham minha lida.

Não sejam cruéis, nefastos guerreiros.
Não me abandonem nunca.
E em meu leito de descanso eterno
Sorriam de minhas quedas infantis.

Pelos séculos e séculos
Amém.

Combinação

Pequena menina do mar
Por que tanta crueldade?
Me permita vacilar.
Eu quero fraquejar.

Não. Não me pegue pela mão,
Não me faça entrar nessa ciranda.
Já estou vencido, cansado.
É só um breve sono eterno.

Vamos combinar assim:
Vá na venda do velho Ibrahim
E me traga celofane azul, o mais azul
E também as continhas brilhantes que ele tem.

Vamos combinar assim:
Fazemos um céu lindo e estrelado no nosso teto,
Deito no teu colo pueril em aconchego
E ficamos em eterno contento

Afago na alma

Em um dia de sol perene
Minha fiel montaria estava arisca,
Se sentiu em alforria
E me fez sentar no chão.

Levantei e bati a poeira.
Notei mais três marcas profundas.
Voltei lentamente até meu castanho,
E com um leve carinho pedi desculpas.

Ele se fez espantado.
E com o mesmo carinho cobri as marcas
Para não constranger a montaria
E retomamos nosso caminho.

Pelos séculos e séculos
Amém.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Quanto tempo?

O Rei Sol não arreda pé.
Teima em não arriar
E diz que só dará lugar
A uma vil Lua amiga.

Faltam 33 tempos.

Todos os ponteiros dos céus já marcam.
Não espere por mim, Rei Sol, ele diz.
Só darei lugar a um vil Luar amigo.
Não espere pelo Sol.

Faltam 33 tempos.

Procure no tempo
Esse egoísta e implacável,
Senhor das dores e amores.
Ele vai sanar angustias e sentimentos.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

BIS

Troco uma fronha por um coração.
Troco uma toalha molhada por um passeio de mão dadas.
Troco um lençol por um corpo quente.
Troco um par de meias novinhas por um pé coladinho no meu.
Troco um chuveiro por uma mão leve fazendo cafuné em meus cabelos.
Troco sentinelas por um cavaleiro amigo meu.
Troco um saco de pão dormido sobre a meso por uma noite de baralho.
Troco um sorvete por um segredo de sangue.
Troco uma camisa do meu time favorito por um abraço.
Troco um radinho de pilha por uma música de cazuza no pé do ouvido.
Troco um prato de feijão por um olhar cativo.
Troco um cobertor por um beijo teu.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Menininha da quermesse

Quero me casar com essa menina
Que veste saia branca rendada à mão.
Ela anda leve na beira do mar
Puxando as ondas com seus passos.

A espuma das ondas não chega nem perto
O branco da saia dela
E o mar se arrebenta com toda ira
Só de inveja

Quero me casar com essa menina
Que veste saia branca rendada a mão
Ela tem beijo com gosto de bebida gasosa
Que me faz ficar com borboletas no céu da boca.

Regresso a duas mãos

Iemanjá, Rainha dos mares, já anunciou:
A senhora já volta.
Os mares cantam em glória
Pelo fim da amarga saudade.

As ondas, tuas amigas, lambem areias seculares
Que tercem teu ser.
Cavalos marinhos trazem o esplendor,
E socó enrosca belas tranças em teus cabelos.

Nem o tempo, cruel carrasco
Pode desmanchar teus castelos de areis
Rainha minha.
Teu servo eterno.