quinta-feira, 24 de maio de 2007

Voadeira

Eita menina voadeira.

Vestida de papel crepom em dias de chuca,
Como se assim não desmantelasse sentimentos,
Cabelo cheirando a jasmin na florada
E a boca coberta de sonhos alheios.

Chuta a espuma do mar como se não fosse amada,
Pisa a reia da praia com os pés do tempo
Que leva a menina a qualquer vil relento
Destruindo os suspiros de amores instantâneos dos marinheiros.

Eita menina voadeira.

Acaba com minha pose de cavaleiro,
Mostrando um lado matreiro de menino já enquecido,
Enche minha brriga de cosquinha,
Como se tivessem mil cavalos do cão em revoada.

Um comentário:

Larissa Minghin disse...

Voadeira

Como se partisse para não voltar, olhou as horas no relógio pela última vez e escovou os dentes com calma. Em cima embaixo atrás, fazendo movimentos arredondados do jeito que a dentista ensinou quando era criança. Tinha sido criança e poucas memórias deste tempo ainda lhe pertenciam. O resto tinha ficado dentro de cada casa que morou, de cada cidade, cada coleguinha de escola, cada boneca Barbie, cada primo, de cada doce de leite.
Agora a idéia era partir novamente. E se fosse preciso deixar as lembranças trancafiadas ali mesmo, o faria. Sairia apenas com a mala das roupas e alguns utensílios especiais (é engraçado como alguns objetos são fundamentais para seguirmos viagem). Até uma foto ou outra ela levaria consigo. "Se um dia as saudades apertarem doídas, é uma solução", pensou.
Olhou o quarto como quem se despede do que um dia foi, mas não houve apego: afeto um dia houve. Fechou a porta de casa e saiu deixando o que tinha, esperando por um breve tchau, pelo menos.
Nem se virou.