quinta-feira, 14 de junho de 2007

O dia em que a onça mostrou como se deve duelar com o tempo

Um dia profano qualquer,
Desses que se acende velas coloridas e coloca pipoca numa cuia em oferenda,
Uma onça pintada, com seis patas, três cabeças, cada uma com uma coroa de refinado metal, entrou pela soleira de minha sala
E me caguetou coisas do mundo dos viventes e dos morrentes.

Falou aqui no meu pé do ouvido
Que lá no quintal, perto de onde se bebe leite de aveloz, estava sentado de cócoras
O velho Santo Simão Julião dos chinelos de couro
Que jogava bolinha de gude com o tinhoso do tempo.

O chinelo do velho Santo Simão Julião chiava e riscava o chão,
O velho Santo Sima Julião, dobrado na gaitada, mangava do tempo,
O tinhoso do tempo se danava com a risadagem e corria virado numa gota
E o pobre do dia, que não tinha anda com isso, era o maior prejudicado e morria na ligeireza.

No final da peleja, em que bicho frouxo corria e cabra valente se mijava,
O tinhoso do tempo, vencido, pegou seus farrapos e desfiados e se retirou,
O velho Santo Simão Julião dos chinelos de couro que risca o chão recolhia suas bolinhas
E Nossa Senhora Mão do Nazareno assistia a tudo de camarote no miolo de um gravatá.

A onça se virou e me falou como quem canta uma Loa:
O tempo corre, se emenda, se arreta, desembesta e se esvai.
Só vai depender do desafiante saber duelar,
Pegar o apressado e arisco pelo rabo e fazer dele um brincante passageiro.

Um comentário:

M.M. disse...

Bom dia, tudo bem? Pode parecer loucura, mas o fato é que sonhei com uma rua chamada "Simão Julião", e ao acordar, lancei no "google" e encontrei essa poesia, que achei muito interessante, por isso fiquei curioso para saber quem é o Velho Galego, e o que quer dizer o seu texto. Um grande abraço e até breve !