domingo, 8 de julho de 2007

A furnicação do velho com a Gira num terreiro de festejos de Santo

No quintal a festa tava com a gota,
Rabeca roncando o ronco no cangote de um jumento de cangalha,
Zabumba bumbando o bumbo no colo de um velho ceguinho prezepeiro de canavial
E pífano piava o pio no bico de uma lavadeira assanhada e ligeira.

Era festa de Santo, desses que tem barba longa e careca lustrosa.
As estrelas do céu vieram fazer suas safadezas,
As borboletas rodavam suas saias para concorrer com as mariposas voadeiras
E o petiguari cantava na vontade de matar a vontade.

No meio dessa briga de foice uma Rainha cantava mais.
Era uma gira medonho, vestida de saias vermelhas, nua da cintura pra cima e calçando chinelos de couro de bode.
Na mão uma faca, arrancada de uma bananeira, com um nome gravado.
Qualquer vivente naquela noite queria estar na ponta daquela lâmina.

Ela corria e gritava, girava e bebia,
O suor escorria e fazia seus peitos brilhar e arrepiar.
A gira, sem-vergonha, se amostrava no meio do terreiro
E os brincantes se perdiam naquela dança invocada e se entregavam.

Fui chegado devagarinho com cara mansa,
Dançando acanhado, de perna puxada e ombro arriado.
Fiz rudia, fiz meu gingado, feito menino pequeno em volta de panela de doce
E como quem não quer nada soltei a língua.

Olhei ela dentro dos olhos e falei algum galanteio que um mouro velho ensinou.
“Niña, yo estoi a cá!”
Ela se ria e girava, baqueava e levantava, fazia que caia e vinha
E naquela dança nefasta fui escrevendo um nome naquela faca.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto tem elementos que eu sei da origem.. hehehe.. e q são os melhores! Gostei demais!
Bjuuu