segunda-feira, 7 de julho de 2008

Feira de Santo

O sol já se mainçava,
Devagarinho como quem espreguiçava de uma rede.
E uma chuvinha chovia morninha mornando a terra que já esquentava.
Os homem já se iam trabalhando, amuntados numa barra forte deselegante, mascando as marcas de uma vida por viver,
E Maria já se vinha suspirando, cheia de graça, levando numa trouxa o sonho dos sonhos por sonhar.
No meio do povarel tinha um sujeito magro, esconchavado, vestido de casaca que jurava que era santo,
E no sovaco levava um manual, que segundo ele, era de santidade.
O livro já tava meio encardido e descascado, cada vinco era feito marca na mão de lavadeira de beira de rio.
O santo dizia que era mais santo que qualquer outro santo, e que de milagre ele já era pós-graduado e doutor.
E pra provar sua santidade esculhambava, maldizia, estirava língua e dava dedo pra qualquer outra divindade desse ou de outro mundo.
Chamava de cuzeiro, emprestador de farinheiro, esfrabicador, ladrão, papa hóstia, roubador de moeda de cego, filhote de catraia mar feita
E qualquer adjetivoro que pudesse rogar contra a santidade alheia.
No meio do falatório todo, durante os agrados verbalizados
Num te conto o acontecido rapaz!
Num é que outro santo veio reclamar de sua parte.
Foi juntando gente, parecia até romaria de padre Cícero,
E os dois santos lascando o pau no meio da pista.
Um que contasse mais milagre que o outro.
Um andou por riba d’água em Sairé,
O outro levantou alejado em Bodocó,
Vinho virou água em Sumé,
Vaqueiro vestido de biquíni em Mossoro,

E depois dos milagres vieram as penitências.
Nunca vi dois miseravi pra sofrer tanto,
Só de chibatadas contem mais que as que Jesus levou dos centurião perverso.
E caco de vidro?
Tinha um que chupava no café da manhã pra ganhar um pontinho na fé,
O outro pingava cera de vela quente no olho pra num pecar com a vista.
O primeiro, na safra de eleição, aturou falatório de comício e candidato caluniador.
Eu sei que de judiação em judiação os santos iam se invocando feito galo de briga, e riscando os pé no chão feito boi brabo.
Até que Tonha boinha, de que boinha só tinha o nome,
Arretosse e disse:
Home, veleime, nunca vi tanto sofrimento e amargura,
Será que vou ter que ouvir, uma hora dessa da manhã, esses puto falando essas angustura?
Foi nessa hora que Penha de Gerar tomou partido na fé e gritou:
Cale a boca filhote de serpente corre campo,
Que pra num gostar de peleja de santo só tendo parte com coisa ruim
Ou então vive de fornicar com o tinhoso.
Ai foi que lascou tudo,
A briga de santo virou bate-boca de meio de fera com riscado deputadal.
Popeline, viscose e crepe! Gritava Bio de Zezé.
Os santos se ininharam no bufete, as beata se rasgaram na unhada.
Olha o peixe fresquinho. Tem tilapia, surubim e traira.
Há desinfeliz, tu magoou minha unha encaicada.
Ferro velho, jornal e garrafa.
Venha, eu sou rim feito araldite.
O tumulto foi ficando grande e o pau cantava.
A coisa só parou quando os volantes apartaram o engembrado
Tonha Boinha descadeirada, Penha de Gerar toda relada
E os santo descangotado.
O barulho foi grande feito estória de cantador
Essa foi a primeira vez que de tanta fé
Vi dois santos e duas beatas
Ir bater num quartel.

Um comentário:

Anônimo disse...

a tua briga é mais poética.. mas o que seria dela sem a minha pra inspirar?
amo, sempre. pra sempre.
bjubju